A revolução digital e a autopublicação

Por Daniel Pinsky

É possível, sim, melhorar muito um original e disponibilizá-lo de maneira adequada, digna, dando ao escritor uma maior chance de sucesso.

O maior impacto que a revolução digital causou no mercado editorial não foi a chegada do ebook, como muitos podem pensar. Antes disso, a digitalização fez com que os custos de processo de produção de livros despencassem. Dessa maneira, a “barreira de entrada” do negócio se esfacelou. Publicar um livro ficou mais rápido e barato. Isso teve diversas consequências, como o surgimento de novas editoras, novos modelos de negócios, livros digitais e até novas formas de imprimir (pequenas tiragens e impressão sob demanda). Além disso, possibilitou a entrada e a popularização do negócio da autopublicação.

Enquanto o custo de produção caía, o número de editoras comerciais e títulos por elas lançados no mercado aumentava. No entanto, esse movimento foi pendular, e devido à diminuição do espaço nas livrarias e à crise do setor editorial no mundo, boa parte das editoras comerciais diminuiu substancialmente sua produção. A solução encontrada foi a de apostar principalmente em livros que têm mais chance de vender, ou seja, com temas da moda e escritores consagrados. Com as portas fechadas nas editoras comerciais, os escritores procuraram novos caminhos.

A autopublicação, que existe há décadas, era conhecida como “Vanity publishing”,  pois somente recorriam a ela escritores que não conseguiam publicar por editoras comerciais e tinham a vaidade como motivação. Atualmente, os escritores procuram uma editora de autopublicação por vários motivos: por interesse em controlar o processo de produção, pelo desejo de receber direitos autorais mais polpudos, por não querer esperar a “benção” de uma editora comercial ou por ter sido rejeitado por elas. São diversos os modelos, desde plataformas onde os arquivos são carregados sem nenhum trabalho de arte ou texto, até modelos premium, onde o escritor tem a qualidade de uma editora comercial somada à atenção e à customização da edição para que o livro saia como sempre sonhou. Fato é que o modelo cresceu e se legitimou.

Editoras de autopublicação que conhecem o mercado conseguem uma qualidade de distribuição tão boa, ou até melhor, que diversas editoras comerciais. E têm condições de montar uma bela equipe editorial. Isso não significa que possam transformar um texto complicado em alta literatura. Mas é possível, sim, melhorar muito um original e disponibilizá-lo de maneira adequada, digna, dando ao escritor uma maior chance de sucesso.

Interessante notar que uma das principais consequências da digitalização para o mercado editorial foi o crescimento do número de editoras de autopublicação e o decorrente aumento de livros autopublicados.


Daniel Pinsky é fundador e diretor-geral da Editora Labrador e sócio-diretor da Editora Contexto. Formado em administração pela FGV, tem MBA pela FIA e Mestrado pela FEA/USP. É especialista no mercado editorial de livros e seus modelos de negócio impressos e digitais.

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