Por Fernanda Scherer
Nada disso é novo, do mesmo modo que também não é nova a ideia de que o consumidor é multimídia. Ainda assim, estamos todos aprendendo.
“E agora com esse negócio de livro digital, a editora não vai perder espaço?”. Eu ouvi essa pergunta diversas vezes de amigos de fora do mercado, e a minha resposta sempre foi: “ebook também é livro e também precisa de um editor”.
Se considerarmos a obra literária como uma experiência compartilhada (e co-criada) com o leitor, a forma como essa obra será apresentada é apenas um suporte. E esse suporte pode ser impresso – em formato econômico ou em uma versão luxuosa daquelas de colocar pra decorar a sala de casa -, pode ser a tela de um celular ou a história pode já vir narrada e pronta pra ser ouvida neste mesmo celular. Já vi livro “impresso” até em muro, e ainda assim não deixa de ser literatura, né?
Nada disso é novo, do mesmo modo que também não é nova a ideia de que o consumidor é multimídia. Ainda assim, estamos todos aprendendo.
Pelo lado das editoras, ainda estamos entendendo as novas oportunidades trazidas pela tecnologia. Estamos revendo nosso próprio negócio, tentando pensar o digital como um produto à parte, e não apenas como uma adaptação do livro impresso. Estamos revendo processos internos, realocando equipes, revendo modelos de divulgação e venda. Estamos reaprendendo tanta coisa que não caberia aqui nesta coluna. E, no meio disso tudo, estamos estudando um consumidor que também está aprendendo.
O consumidor (e eu me incluo aqui também) está aprendendo o funcionamento das tecnologias (onde foi parar o ebook que eu comprei? Pode fazer download? Pode ouvir offline?) e aprendendo as vantagens e desvantagens de cada um dos suportes para então escolher como irá consumir¹ cada obra. Ou como irá consumir a mesma obra em momentos diferentes (em casa lê a versão impressa e na espera do restaurante segue lendo a história no app do celular, por exemplo). Ou que tipo de história gosta de ouvir e que tipo prefere ler. Compreendendo, inclusive, que ler/ouvir digital não é trair o livro impresso, pois a obra literária é o centro, o resto é apenas o suporte (ok, às vezes o suporte é incrível, mas, ainda assim, é apenas o suporte).
Esse texto não traz dicas de marketing, tampouco pretende revelar os segredos do sucesso no mercado de livros digitais. Esse texto é apenas uma pequena reflexão sobre um novo mercado e sobre um consumidor quase novo que, além de ser ouvido, precisa de paciência e ajuda em sua jornada de aprendizado. O que podemos fazer para ajudá-lo?
¹ Sei que soa estranho, mas deixa eu me defender aqui: o consumo não está diretamente relacionado à compra de um produto, mas à ação de consumir, de utilizar algo. Portanto a leitura é uma experiência de consumo, assim como ouvir música e ir ao cinema.
Fernanda Scherer é mestre em Marketing pela UFRGS, atua como coordenadora de Marketing na L&PM Editores e é cofundadora da Editora Piu. Apesar de trabalhar com literatura, praticamente não tem livros em sua estante porque aderiu ao digital e ao sistema de desapego (ler e passar o livro adiante).