Por Camila Cabete
Quando a gente acha que entendeu, vem mais uma coisa nova…
Este é o sentido de inovação. Tudo em movimento e constantemente mudando. Ganha quem tem mais maleabilidade e for mais aberto às mudanças. Vamos concordar que isso acontece inclusive na nossa vida pessoal, não é? Mas começo este artigo com esta reflexão, porque vim falar para vocês sobre novos modelos de negócios que surgiram no mercado editorial e como tudo na vida, quanto mais dúvidas, mais medo e receio temos.
Para evitar esses receios, venho falar sobre alguns modelos novos, que já existem e estão em pleno funcionamento no mundo todo. A era do preço de capa passou… Ou melhor, se estabilizou. Temos novas tecnologias e possibilidades mil para a venda dos produtos digitais editoriais. Acredite: isso é uma ótima notícia!
Desde os tempos que só tínhamos a venda do livro impresso, esses novos modelos já apareciam. Lembram das vendas de milhões de livros para Avon? Vocês devem saber que esses milhões de livros não saíam com preço de capa de varejo, certo? Ou pelo menos imaginam. Então isso é para lembrar que novidade no modelo de vendas de livros não é coisa somente do digital… Sempre surgia algo novo…Consignação, compras em grandes quantidades, vendas com divulgação escolar, vendas para bibliotecas… Tudo novidade, cada uma em sua época… Mas pelo que ouço nos burburinhos, parece às vezes que novidade é exclusividade do digital.
Hoje temos conectividade e isso abre um leque de ganhos e plataformas novas. Dinheiro que antes não vinha para o mercado editorial, agora vem (como é o caso dos aplicativos mobile, via operadora de telefonia), temos modelos de bibliotecas diversos como Pay per use, onde colocam o preço de capa por uma porcentagem do preço oficial (modelo muito usado na União Européia, por exemplo), ou preço por empréstimo, onde paga-se depois de uma quantidade de empréstimo (como eram feitas as compras físicas do livro impresso por bibliotecas). Não importa o modelo novo, o que precisa ficar claro é que, o que está em jogo são quantidades maiores de livros e produtos digitais como um todo, circulando. Não são modelos canibalizantes (essa palavra que adoram usar e eu odeio), são modelos de atualização de mercado, apropriação de oportunidades que surgem para difundir o livro, o conteúdo de qualidade.
Vinda do varejo de ebooks, eu me surpreendo toda vez que me deparo com números de vendas e até de faturamento às editoras provindo desses novos modelos. E me surpreendo quando vejo que grandes editoras não estão aproveitando, nem participando da atualização de mercado por capricho, medo, receio e até mesmo por não ter tempo de olhar esses novos modelos.
Temos um mau hábito de acharmos que novidade é sempre com objetivo de se apropriar ou se aproveitar do outro. Só que a inovação chegou no mercado editorial para ficar. Não tem como retroceder e não tem como fingir que não existe. Quando os atores deste mercado começam a se falar, e a trocar números, essa conta é cobrada da gente. Mas quando o resultando vem, é mérito também dos decisores e lideranças.
Se tem uma coisa que acho muito inteligente hoje, é aproveitar a crista da onda quando novidades surgem. Não retiro a responsabilidade de analisarem e negociarem, mas já ir com o pensamento: isso agora existe, não fazer parte me limita e limita meus autores a chegarem em lugares que antes era muito difícil chegar.
Não falamos de favores concedidos a parceiros de mercado, estamos falando de cifras enormes, assim como milhões de livros já vendidos neste formato de negócio, todos os anos. Não falo de cima de uma marola, mas de uma onda que ainda está na fase crescente. Não falo de grandes investimentos, nem de arquivos especiais que precisam preparar, que já não estejam preparando ou já não tenham (a Árvore aceita até PDF para livros infantis, vejam vocês!). Falo somente de uma postura menos defensiva, mais profissional e direcionada a inovação. Vem, que dá tempo!!!!
Camila Cabete (@camilacabete no Twitter e instagram) tem formação clássica em História. Foi pioneira no Brasil em trabalhar e desenvolver o mercado editorial digital. Hoje é a Head de Conteúdo na Árvore e podcaster e idealizadora do Disfarces Podcast.