2023, o ano do audiolivro

Por Fabio Uehara

…posso dizer que nunca fizemos tantos negócios, que nunca produzimos tanto e que o interesse do leitor-ouvinte tem crescido de forma constante. Mas, ainda estamos longe da realidade de países como Estados Unidos e partes da Europa.

Para quem acompanha o mercado editorial sabe o tanto que “audiolivro” se tornou uma palavra-tendência; que, nos mercados de língua inglesa, o audiolivro apresenta crescimento de no mínimo de dois dígitos e com isso conquista públicos que a leitura tem perdido, como homens e meninos, e que disputam o tempo com redes sociais, “games” e “streaming” de vídeos.

Mas e no Brasil? 2023 será o ano do audiolivro? 

Junto com o ebook, o audiolivro compõe o mercado editorial digital e estamos completando mais de uma década de e-books no nosso país. Foi em 2009 que a primeira livraria digital, a Gato Sabido, iniciou sua operação por aqui, e, em seguida, no ano de 2010, Saraiva e Cultura, as maiores livrarias — naquele momento por aqui —  começaram suas operações com e-books. E em 2012, as grandes empresas de tecnologia, Amazon, Apple, Kobo e Google começaram a venda de livros digitais. E, em 2015, a Bookwire começou a operar no Brasil. 

Desde então, ouviu-se de tudo: desde que o digital iria acabar com o mercado, que destruiria o valor percebido do livro físico, até que o e-book no Brasil não teria futuro. E eis que 2020 foi o ano do e-book no Brasil e, em 2022, sua presença se mostra cada vez maior e uma importante parte do faturamento e do processo de produção das editoras (sem as ameaças propagadas no começo deste século).

No entanto, para chegarmos a este cenário, o catálogo teve de ser construído, toda uma a cadeia de produção profissionalizada, e o formato e as livrarias digitais se tornaram conhecidas do grande público. 

O cenário do Brasil dos audiolivros está se formando. Posso dar aqui um exemplo do meu ponto de vista como Diretor de Conteúdo da Tocalivros. A empresa tem três núcleos principais: b2b, parte do negócio que leva livros e áudios das editoras para empresas, a segunda, a b2c, uma plataforma de comercialização de e-books e audiolivros para o consumidor final, e o último, de estúdio de produção de audiolivros para nossas editoras parceiras, que já produziu mais de 1.500 títulos. E dentro destes núcleos posso dizer que nunca fizemos tantos negócios, que nunca produzimos tanto e que o interesse do leitor-ouvinte tem crescido de forma constante. Mas, ainda estamos longe da realidade de países como Estados Unidos e partes da Europa.

Comparativamente, temos ainda poucos títulos em formato áudio, estando ainda na casa dos milhares, enquanto impressos e digitais somam centenas de milhares de títulos. Ou seja, o ouvinte procura e não encontra tudo que busca. Dessa forma, temos que produzir muito mais títulos em formato de audiolivro e garantir, como editores, os direitos autorais também neste formato além de pensar em mais títulos originais em audio.

Provavelmente teremos, já no próximo ano, a entrada de outros players voltados para o áudio e, em consequência disso, uma expansão do mercado em direção a mais leitores-ouvintes, gerando mais faturamento na área como em todo, além de  incentivar mais produções acelerando e amadurecendo toda a cadeia de  profissionais e estúdios. 

Na recente retomada dos eventos, pude participar de dois: da Feira do Livro de Frankfurt, maior evento do mercado editorial no mundo, e da FLIP, um dos festivais literários mais relevantes do Brasil. No primeiro vê-se um amadurecimento, tanto na produção, quanto na multiplicidade de soluções para o mercado de áudio, havendo na Feira de Frankfurt, uma área dedicada ao tema contando  palestras ultra concorridas. E além da novidade do Spotify entrando com os dois pés no mercado de livros em áudio, inicialmente apenas no EUA e, poucas semanas depois, em outros mercados de língua inglesa, observamos também novas formas de comercialização focadas no público final, como assinaturas por horas de consumo, por exemplo. E, na FLIP, por outro lado, as conversas já não são apenas uma novidade distante, mas uma vertente real de negócio, menos sobre por onde começar a se produzir ou investir e mais para uma abertura prática para enveredar por mais esta possibilidade para propagar histórias para um novo público. Talvez não seja em 2023, mas o ano do audiolivro está se aproximando sem dúvida. A única questão é: você está pronto para ele?


Fabio Uehara, em sua trajetória profissional, passou pelos segmentos de varejo, publicidade, webdesign e, cerca de 20 anos atrás, entrou no mercado editorial. De vendedor na Bienal do Livro pela Companhia das Letras, passou a produtor gráfico, tornou-se diretor de arte e mais tarde criou o departamento digital da editora, um dos pioneiros no mercado brasileiro, sendo responsável pelas áreas de e-commercee-books, audiolivros e afins. Atuou também como Coordenador de Novos Negócios da HarperCollins Brasil. E atualmente é diretor de aquisição de conteúdo da Tocalivros.

Foi o responsável pela criação da Rádio Companhia, um dos podcasts pioneiros do mercado editorial, atuando como apresentador e produtor. Criou o podcast Lanterna de Papel e é também o apresentador do podcast do PublishNews e do Batendo Prova. É também designer, fotógrafo e criador de booktrailers.

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