Por Carolina Porne
…acredito que a multiplicidade de formatos fortalece o mercado editorial como um todo, pois dá liberdade de escolha para o leitor.
Os livros digitais entraram na minha vida em momentos de grande mudança, e o consumo de livros em outros formatos também tem sido uma grande mudança para o mercado editorial. Em 2016, fiz uma viagem pela Argentina, sozinha, só com uma mala. Levar um livro físico (ou mais, considerando a velocidade com que eu devoro leituras) ocuparia um espaço impensável e indisponível; sendo assim, levei um leitor de ebooks comigo.
Foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado. Os ebooks estavam sempre à mão, eu conseguia ler durante a noite (foram muitas horas no ônibus!) e eu pude desfrutar do prazer de boas leituras sem carregar peso extra. Foi o começo de uma relação de amor com os livros digitais.
Na época, eu trabalhava na saudosa Fnac Brasil. Se alguém me dissesse que, pouco mais de um ano depois dessa viagem de férias, a Fnac já não existiria por aqui e eu estaria trabalhando com digital em uma editora, eu não acreditaria. Só que as coisas tem sido assim no universo dos formatos digitais: tudo muda muito rápido, assim como a tecnologia no geral.
Eu era responsável pelas redes sociais da Planeta de Livros Brasil quando me foi oferecida a oportunidade de trabalhar também com os livros digitais. Enquanto a parte comercial seria conduzida pela Cinthya Müller (que tanto me ensinou e que tenho orgulho de poder chamar de amiga), eu faria a gestão de conteúdo, acompanhando o processo de produção dos primeiros audiolivros da Planeta, realizando o cadastro de ebooks e seus metadados, trabalhando ações de marketing específicas para os livros digitais e analisando a parte contratual, tanto para liberação de obras para produção, quanto das empresas do mercado que faziam a distribuição desses conteúdos.
Começava oficialmente a minha jornada no mercado dos livros digitais, e aquela relação que já existia como leitora começou a se fortalecer enquanto profissional do livro. Acredito que uma das coisas mais fascinantes de trabalhar com ebooks e audiolivros é perceber como a leitura pode fazer ainda mais parte do cotidiano das pessoas. Quando falamos que, para se criar o hábito de leitura, é preciso separar um tempo para isso e criar uma rotina, os livros digitais ajudam muito, pela sua praticidade de consumo.
E, se carregar um leitor digital já é prático, imagina só consumir os conteúdos no próprio smartphone? O aparelho já é uma extensão de nós, é difícil imaginar como eram os dias sem estar conectado o tempo todo – e olha que nem faz tanto tempo assim. Mas repito, as coisas mudam rápido, e cada vez mais rápido.
Sendo assim, nada melhor do que ter na palma da mão os melhores conteúdos, para ler quando, onde e em qual formato preferir, texto ou áudio. Ainda estava na Planeta quando conheci o projeto do Skeelo; a parceria entre a startup e as operadoras de telefonia permitiria que os clientes recebessem um livro por mês, sem custo adicional ao leitor. Bom para quem vende livros, bom para quem lê. Uma experiência de leitura digital totalmente disruptiva.
Contudo, antes de chegar na Skeelo como colaboradora (ou melhor, como skeeler), o mercado editorial digital ainda me proporcionou outras experiências na produção. Acompanhei gravações de audiolivros com personalidades incríveis, como Marisa Orth e Heródoto Barbeiro, produzi livros digitais para o mercado europeu, em espanhol e português de Portugal, e pude ver de perto o interesse pelo livro digital crescer, no mercado e também entre os leitores.
Aqui vale um parênteses: não acredito em uma concorrência entre o livro digital e o livro físico. Pelo contrário, acredito que a multiplicidade de formatos fortalece o mercado editorial como um todo, pois dá liberdade de escolha para o leitor. Se eu quiser ter uma edição especial na minha estante, vou comprar o livro físico; se eu quero ler em qualquer lugar, no meu celular ou em um device, tenho o e-book a disposição; se eu quero ouvir uma boa história enquanto faço outras coisas, ouço o audiolivro. E esses livros podem, inclusive, ser o mesmo; como leitora, tenho experimentado muito isso. Ler o mesmo livro nos diferentes formatos e poder acessar a história que estou acompanhando da forma que consigo em determinado momento.
Cheguei na Skeelo há dois anos e vi muitas transformações acontecerem, o que é natural para uma empresa inovadora. Comecei dando suporte ao modelo de negócio original, auxiliando na parte de contratos, mas rapidamente vi surgir um desejo por autonomia, por ter uma frente de negócios independente, própria. Fui destacada, então, para coordenar o modelo B2C, voltado diretamente para os nossos leitores. O primeiro passo foi a criação do nosso ecommerce; a Loja Skeelo, que completou recentemente um ano no ar, começou vendendo ebooks e audiolivros para que nossos leitores pudessem complementar suas estantes de livros, ir além do um título por mês que recebem como benefício.
O sucesso foi surpreendente. Se compararmos o primeiro semestre de operação da Loja Skeelo (2º semestre 2022) com o segundo (1º semestre 2023), mais que dobramos o faturamento da loja em apenas seis meses. Além disso, dobramos a nossa audiência web, em visualizações e número de usuários únicos, e diminuímos nossa taxa de cancelamento de 16% para apenas 5%. Além disso, integramos um novo produto ao nosso ecossistema: ele mesmo, o livro físico.
Só que não paramos por aí. Hoje, o consumo de conteúdo de entretenimento se dá em sua maioria no formato streaming: ouvimos música dessa forma, assistimos filmes e séries dessa forma, acompanhamos nossos esportes favoritos dessa forma – e com a leitura não seria diferente. O mercado editorial já possui exemplos de streamings de livros, principalmente para o consumo de audiolivros, que se aproxima do consumo de música e podcasts e, portanto, nasceu dessa forma. Mas sempre podemos fazer algo diferente…
E foi assim que nasceu o Leer+, unindo o melhor da Skeelo, que é a entrega de um livro de posse definitiva por mês, e o acesso a mais de 30 mil títulos no modelo streaming. Novamente, a ideia é dar liberdade de escolha ao leitor, permitindo que ele consuma suas histórias favoritas da forma mais conveniente possível, com tecnologia e curadoria. Em menos de um mês no ar, o Leer+ já passou de 800 assinantes. Por tudo isso, pela minha história como leitora de livros digitais e como profissional, que eu sigo acreditando no poder dos livros. Eles se transformaram, nos transformaram e seguirão transformando o mercado e as novas gerações de leitores, em todos os seus formatos.
Carolina Porne é jornalista de formação e contadora de histórias por vocação. Começou no mercado editorial trabalhando com revistas, com passagem pela Editora Abril e Escala. Trabalhou no marketing da Fnac Brasil e da Editora Planeta. Atualmente é coordenadora de conteúdo B2C na Skeelo.