O conhecimento é para todos…certo?!

Por Andréia Queiroz

É maravilhosa a sensação de escolher o conteúdo que quer assistir, o livro que quer ler, folhear as suas páginas para absorver conhecimentos técnicos ou até mesmo vivenciar histórias lúdicas. São inúmeras as possibilidades, certo? Mas quando falamos dos materiais acessíveis, essa forma quase que ilimitada parece ter um número reduzido.

Aos 26 anos fiquei cega, mas meu anseio de conhecimento sempre foi e continuou gigante. Aprendi braille, estudei, me formei, continuei em busca de saber cada vez mais e os formatos acessíveis que naquele momento encontrei. Claro, que as tecnologias assistivas vão se desenvolvendo ano a ano, mas é importante levantar o tema para que todos reflitam. E quando falo todos, são todos mesmo! Pessoas com e sem deficiência, dentro e fora do mercado.

No caso do mercado editorial brasileiro, acredito que para melhorar a acessibilidade é essencial que os profissionais – editores, autores e distribuidores – se unam em um esforço conjunto, disponibilizando conteúdos em formatos acessíveis, como: livros em braille (formato indispensável para a alfabetização da pessoa cega), e-books com recursos de leitura em voz sintetizada, ajustes de contraste e tamanho de fonte. Além disso, o investimento em tecnologias de impressão sob demanda pode tornar viável a produção de edições em braille e audiolivros para pessoas com deficiência visual. Sem deixar de lado a importância de tornar o custo também acessível, permitindo que mais leitores tenham acesso a obras literárias e acadêmicas de qualidade.

Outro ponto crucial é diversificar os pontos de venda e ampliar o alcance geográfico das livrarias físicas e online. Isso não apenas facilita o acesso físico aos livros, mas também promove uma maior diversidade de títulos disponíveis em diferentes regiões do Brasil. Programas de incentivo à leitura e parcerias com instituições educacionais e comunitárias são necessárias para disseminar o acesso aos livros, especialmente em áreas menos favorecidas economicamente.

A conscientização sobre a importância da acessibilidade no mercado editorial, tanto entre os consumidores quanto entre os profissionais do setor, é fundamental para promover mudanças significativas e sustentáveis nesse campo!

Precisamos compreender que a acessibilidade vai além das questões técnicas! Reconhecer as diversas barreiras que limitam o acesso equitativo à leitura, incluindo as diferentes necessidades culturais, linguísticas e sociais dos leitores. Valorizar a diversidade de experiências e perspectivas, refletindo isso na escolha de temas, na representação de personagens e na linguagem utilizada nos livros.

A inclusão genuína no mercado editorial não se trata apenas de disponibilizar livros acessíveis, mas também de criar um ambiente acolhedor e representativo para todos os leitores, independentemente de suas características individuais.

É fundamental promover a educação e a conscientização sobre a importância da acessibilidade dentro e fora do setor editorial. Campanhas educativas, parcerias com organizações da sociedade civil e colaborações com instituições de ensino podem incentivar uma cultura inclusiva desde a concepção até a distribuição e o marketing dos livros. Assim, a acessibilidade no mercado editorial brasileiro não é apenas uma questão técnica, mas sim uma transformação cultural e educacional que valoriza a diversidade e garante igualdade de acesso ao conhecimento e à cultura.

Para promover eventos editoriais inclusivos e acessíveis no Brasil, é preciso adotar práticas que considerem as necessidades diversas de todos os participantes. Escolher locais acessíveis, oferecer interpretação em Libras para surdos, e disponibilizar materiais impressos em braille são passos essenciais. A audiodescrição também é fundamental, permitindo que pessoas com deficiência visual acompanhem eventos por meio da descrição de elementos visuais. Incentivar a participação remota e diversificar as programações são outras medidas importantes para ampliar o alcance e a inclusão dos eventos editoriais.

A Fundação Dorina Nowill para Cegos, onde atuo como consultora de acessibilidade, desempenha um papel crucial na promoção da inclusão no mercado editorial brasileiro. Os formatos acessíveis ganham espaço, uma gama com diversas possibilidades, seja com a produção de livros em braille, audiolivros, materiais digitais, entre outros, a Fundação possibilita o acesso à leitura para pessoas com deficiência visual! Além disso, promove a conscientização sobre a importância da acessibilidade, oferecendo treinamentos e cursos que capacitam profissionais do setor.

Essas iniciativas não apenas ampliam o acesso à leitura para pessoas com deficiência visual, mas também fortalecem uma cultura mais inclusiva e sensível às necessidades de todos os leitores. Estou comprometida em contribuir para um mercado editorial brasileiro mais acessível e inclusivo, onde todos tenham a oportunidade de desfrutar do vasto universo literário disponível. Te convido a embarcar nessa jornada, vamos juntos?!


Andréia Aparecida da Silva Queiroz é consultora em Acessibilidade na Fundação Dorina Nowill para Cegos, atuou por dez anos como revisora de textos em braille e, atualmente, faz parte do time Comercial, na área de Soluções em Acessibilidade.

É pós-graduada em Psicopedagogia, pela Universidade Nove de Julho, com graduação em Pedagogia, também pela Universidade Nove de Julho; Letras, pelo Centro Universitário Sumaré; Teologia Ministerial, pelo Seminário Teológico do Betel Brasileiro.

Possui cursos de extensão em QA em Acessibilidade Digital, pelo INSEP – Núcleo de Capacitação e Consultoria em Acessibilidade; Acessibilidade Digital, pela GoKursos- Educação Continuada; Tecnologias Assistivas e Comunicação Alternativa, pelo Instituto INILIBRAS; além de Consultoria em Audiodescrição, pela Associação Catarinense para a Integração do Cego (ACIC – Florianópolis/SC).

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