Neste artigo, trazemos um apanhado geral do mercado de audiolivros no Brasil e no mundo, elencando alguns dos principais fatos ocorridos e dados disponibilizados publicamente nos últimos meses. No último dia 14 de outubro, o Spotify lançou sua aba e modelo de negócios exclusivos de audiolivros na França, Bélgica, Holanda e Luxemburgo, em celebração realizada em Paris. Antes, apenas usuários de países de língua inglesa contavam com esse benefício. Já no Brasil, entre os dias 9 e 13 de outubro, ocorreu mais uma edição da Flip – tradicional feira do livro de Paraty. Nesta edição, foi perceptível o crescimento do tema audiolivros, com várias mesas dedicadas ao assunto. Quatro dessas mesas contaram com participação ou mediação do time de áudio da Bookwire.
Spotify expande audiolivros para novos mercados europeus
A chegada do Spotify Audiolivros à França, Bélgica, Holanda e Luxemburgo marca um novo capítulo na expansão da plataforma. Segundo comunicado oficial do Spotify, os novos mercados terão acesso a um modelo de assinatura que inclui audiolivros ilimitados, além da possibilidade de compra avulsa. O lançamento na Europa continental reflete a estratégia do Spotify de ampliar seu alcance para além dos países de língua inglesa.
De acordo com artigo publicado pela Axios, a entrada do Spotify no mercado de audiolivros tem contribuído significativamente para o crescimento do setor. Nos EUA, sem a participação do Spotify, o mercado de audiolivros cresceu 14% em unidades vendidas entre o quarto trimestre de 2022 e o quarto trimestre de 2023, segundo a Bookstat. Com o Spotify, o crescimento no mesmo período foi de 28%.
Dados internos da empresa mostram que novos usuários do plano premium que acessam audiolivros passam, em média, cinco horas adicionais ouvindo conteúdos durante os primeiros 60 dias após iniciarem um livro. Desde o lançamento da aba de livros falados, dezenas de milhões de usuários ouviram pelo menos uma parte de um audiolivro, tanto de forma avulsa quanto via assinatura premium.
O custo variável dos audiolivros, de acordo com o CEO Daniel Ek, é um fator que ajuda a equilibrar as margens de lucro, comparado ao mercado de podcasts. Ek também ressaltou que o engajamento com audiolivros é um indicador saudável do valor vitalício de uma assinatura do Spotify. Cerca de 58% dos ouvintes globais de audiolivros na plataforma estão na faixa etária entre 18 e 34 anos.
A empresa tem aproveitado sua base de podcasts para promover audiolivros de forma eficaz. “Nós já sabemos quem está interessado em ouvir conteúdos falados”, comentou Kaefer, executivo da plataforma, acrescentando que o Spotify está intensificando a promoção de audiolivros via seus canais de podcasts. O impacto desse movimento é visível nas vendas: atualmente, nove dos dez audiolivros mais populares na plataforma são títulos de backlist, e seis desses foram lançados há mais de cinco anos.
No último trimestre de 2023, o Spotify já detinha 11% de participação no total de unidades vendidas de audiolivros nos EUA, ultrapassando a Apple, mas ainda atrás da Audible, da Amazon, que continua sendo a líder do segmento. A HarperCollins, por exemplo, relatou que no último trimestre sua receita com audiolivros digitais superou, pela primeira vez, a receita com eBooks, indicando que o modelo de streaming não apenas atrai novos ouvintes, mas também revitaliza títulos antigos, tal como o streaming de vídeo fez com séries de TV clássicas.
Flip 2024: Mesas de áudio e os bastidores do formato falado
A Flip 2024 deu grande destaque aos audiolivros, trazendo profissionais que atuam em múltiplas áreas do ecossistema dos livros falados, incluindo editoras, agregadoras, estúdios, narradores e ouvintes entusiasmados. A seguir, detalhamos as principais mesas que contaram com participação da Bookwire e seus parceiros:
Mesa 1: Audiolivro – Seu Fazer e Seus Bastidores
Zil Ferraz (Sonora Books), Claudia Scheer (Fundação Dorina Nowill para Cegos), André Cálgaro (Narratix) e Igor Morales (Bookwire, mediador) discutiram suas trajetórias no mundo dos audiolivros. Eles falaram sobre os desafios de gravar narradores e autores e sobre a adaptação de textos para a fala, além de compartilhar curiosidades sobre o processo de produção do formato.
Mesa 2: Casa Editora Ler | Ubook
Com Ramiro Macedo (Bookwire), Zil Ferraz, Sandra Silvério (Livro Falante) e mediação de Cris Albuquerque, essa mesa fez um levantamento histórico dos audiolivros no Brasil, desde a era dos discos e CDs até a digitalização e popularização com os smartphones. A conversa foi encerrada com um benchmarking entre eBook e audiolivro, destacando que a ampliação de catálogo e a qualidade são fundamentais para o crescimento da receita.
Mesa 3: Audiolivros – Primeiros Passos e Troca de Experiências
Participaram Claudia Esteves (Audible), Mariana Beltrão (Supersônica), Antonio Hermida (Bookwire) e Fábio Uehara (Tocalivros, mediador). Eles discutiram a construção de catálogos e compartilharam experiências sobre projetos difíceis. A pergunta de encerramento foi: “O que falta para o audiolivro conquistar as massas no Brasil?” A resposta consensual foi que tempo, investimento em catálogo e qualidade são fatores determinantes para a popularização do formato.
Mesa 4: A Construção de um Catálogo de Áudio – Existe uma Fórmula?
Com Cinthya Müller (Planeta), Roberto Jannarelli (Antofágica), Rita Mattar (Fósforo) e Antonio Hermida (Bookwire, mediador), essa mesa trouxe perspectivas sobre a construção de catálogos em áudio. Discutiu-se o alto custo da produção comparado ao eBook e a necessidade de equilíbrio entre obras de alta rentabilidade e projetos menos lucrativos, que muitas vezes serão pagos pelos primeiros. Rita Mattar destacou a experiência pessoal de ouvir um audiolivro enquanto caminhava pela cidade onde a história se passa, demonstrando como o áudio pode conectar narrativas e espaço físico de forma única, produzindo memórias singulares.
Tanto no Brasil quanto no mundo, o formato falado tem se consolidado como um dos mais relevantes no mercado editorial, reforçando sua reputação de segmento que mais cresce no setor. As notícias apresentadas neste artigo indicam que os audiolivros não são apenas uma oportunidade financeira para editoras, mas também uma chance de ampliar criatividade e diretrizes artísticas, além de democratizar o acesso à leitura. Com o crescimento do consumo de áudio em um país com alta penetração de smartphones, como o Brasil, as editoras têm à sua frente um terreno fértil para se conectar com novos públicos, através de histórias e modelos de negócio inovadores.