Audiolivros no Brasil: o que os dados de 2024 podem revelar sobre o futuro?

Quem acompanha nossos artigos certamente já leu algumas vezes a frase “o mercado de audiolivros continua crescendo no Brasil” (entre outras variantes), assim como a ponderação “embora o catálogo em português ainda seja muito pequeno se comparado ao de outros idiomas”. Pois bem: para não (apenas) soarmos repetitivos, trouxemos uma análise inédita e profunda, que avalia o formato falado estabelecendo critérios e pontos de referência, oferecendo uma visão holística do mercado digital — tudo isso com o objetivo de mensurar o crescimento e o impacto dos livros falados em solo brasileiro. A intenção é te ajudar a tomar decisões estratégicas, traçar metas para os próximos anos, mas, sobretudo, fazer com que você conheça melhor as nuances dessa vertical relativamente nova (embora também a mais antiga forma de contar histórias que conhecemos). Nosso artigo analisa o formato dentro do contexto brasileiro e o otimismo aqui vem precedido — e balizado — por dados (nosso catálogo de mais de 170 mil e-books, 5 mil audiobooks e mais de 700 editoras no Brasil).

Crescimento da Receita de Audiolivros em 2024

  • +50% de crescimento na receita de audiolivros (incluindo telecom) em 2024 em relação ao ano de 2023.
  • +110% de crescimento na receita sem telecom em 2024 em relação ao ano de 2023, contra um crescimento de 51% do catálogo no mesmo período.
  • Em comparação com 2022, o crescimento foi de +77% (com telecom) e +184% (sem telecom).

 

RECEITA INCLUINDO TELECOM (2024):

RECEITA SEM TELECOM (2024):

Observação metodológica: Para tornar esta análise mais compreensível e permitir comparações mais claras entre os modelos de negócio, agrupamos todas as variações de receita por assinatura — incluindo modelos baseados em tempo de escuta (por minuto), crédito mensal, streaming ilimitado, bundles com operadoras de telefonia (modelo telecom), entre outros — sob um único guarda-chuva chamado “Subscription”.

Benchmark: Participação do Áudio na Receita Digital

Entre os títulos disponíveis nos dois formatos e cujo lançamento em ambos ocorreu antes do início de 2024, os audiolivros representaram 18% da receita total (ebook + áudio) em 2024, contra 12% em 2023. Isso representa um aumento de 50% na participação do áudio no digital para obras disponíveis nos dois formatos.

OBRAS NOS DOIS FORMATOS: COMPARATIVO GERAL (2023-2024)

OBRAS NOS DOIS FORMATOS: GÊNERO DE NEGÓCIOS (2023-2024)

Os gráficos acima demonstram que os fechamentos de trimestre para audiolivros em 2024 alcançaram patamares inéditos, numa curva que demonstra tendência de crescimento e aproximação à receita do e-book. Ao filtrar apenas pelo gênero de negócios, observamos uma aproximação ainda mais acentuada.

GÊNEROS COM MAIOR RECEITA EM AUDIOLIVROS GERAL

CATÁLOGO POR GÊNERO EM AUDIOLIVROS

As 50 obras “curva A” disponíveis nos dois formatos que obtiveram receita maior em áudio em 2024

Em 2024, 50 obras “curva A” disponíveis em ambos os formatos tiveram desempenho superior em receita na versão falada em relação ao e-book — contra 34 em 2023. Entre os gêneros que mais se destacam estão: ficção (que subiu de 11 títulos em 2023 para 28), LGBTQIA+ (de 1 para 4) e desenvolvimento pessoal (de 4 para 6). Por outro lado, o gênero religião apresentou retração significativa — de 15 para 5 títulos. Negócios também entrou no radar: pela primeira vez, obras desse gênero em áudio superaram suas versões em e-book.

Os 50 títulos divididos por gênero literário, comparando-os com a lista de 2023

Entre as obras com receita superior em áudio em 2024, além de títulos mecionados no nosso último artigo, como A guarda-costas (Planeta), A inquilina silenciosa (Planeta) e a série Witcher (WMF), destacamos Clube de costura dos Corações Remendados (Harlequin), O código da mente extraordinária (Novo Século), Casta (Zahar – Companhia das Letras), A escola do bem e do mal (Autêntica), Raul Seixas (Todavia), Seja Rico (Luz da Serra) e Manifesto Comunista (Boitempo), exemplificando que o fenômeno ocorre com diversas editoras e catálogos.

Curva A: elencando prioridades para virar audiolivro

Em um universo tão vasto de títulos disponíveis, é preciso estabelecer de forma inteligente as prioridades na hora de investir em um formato cujos custos de produção estão longe de ser irrelevantes — especialmente diante do contexto das editoras brasileiras. Por isso, utilizamos o princípio de Pareto, também conhecido como regra 80/20, que parte da ideia de que uma pequena parte do catálogo é responsável pela maior parte da receita. No nosso caso, buscamos identificar qual percentual do catálogo digital, em sua totalidade, efetivamente gera 80% da receita das editoras. A ideia não é limitar as produções a esse grupo, mas sim estabelecer um critério inicial — e mesclá-lo com lançamentos simultâneos em todos os formatos, obras premiadas e relevantes, clássicos, além de explorar backlists com potencial de diálogo com o público crescente de leitores-ouvintes.

Entre todos os e-books entregues pela Bookwire que obtiveram receita em 2024, 10% foram responsáveis por 80% da receita. Dentro desse grupo — que chamamos aqui de “curva A” — apenas 11% possui versão em áudio. Ou seja, 89%, ou 5,5 mil obras estratégicas, ainda não foram produzidas em audiolivro – um número viável de ser desenvolvido a médio prazo por meio de esforço conjunto e planejamento estratégico entre os principais atores dessa vertical — sendo o nosso programa WAY no Brasil um deles. Vale lembrar que o crescimento da receita com áudio tem se mostrado exponencial: quanto maior o catálogo, maior tende a ser a participação do formato na receita digital de todas as obras. Além disso, pesquisas realizadas internacionalmente, como a Nielsen BookScan Report 2024  e os StatShot Reports da Association of American Publishers (Estados Unidos, 2023), indicam que não há indícios de canibalização do livro físico ou do e-book.

Audiolivros Mais Vendidos em 2024

  • A psicologia financeira (HarperCollins Brasil)
  •  Quarta Asa (Planeta Minotauro)
  • Sapiens – Nova edição (Companhia das Letras)
  • Torto arado (Todavia)
  • Especialista em pessoas (Academia)
  • O Hobbit (HarperCollins Brasil)
  • Nexus (Companhia das Letras)
  • O poder do hábito (Objetiva)
  • A guarda-costas (Essência)
  • Antifrágil – Nova edição (Objetiva)
  • Deixe de ser pobre (Maquinaria Sankto)
  • Rápido e devagar (Objetiva)
  • Inteligência emocional (Objetiva)
  • Trabalhe 4 horas por semana (Planeta)
  • A gente mira no amor e acerta na solidão (Paidós)
  • Jogos vorazes (Rocco Digital)
  • Gatilhos mentais (DVS Editora)
  • O Último Desejo (WMF Martins Fontes)
  • O livro que você gostaria que seus pais tivessem lido (Fontanar)
  • A guerra dos tronos (Suma)

Tendências e Oportunidades para o Mercado de Audiolivros

Sem dúvidas, é necessário um esforço conjunto por parte do ecossistema de produção e venda de audiolivros no Brasil, que passa por investimento em mídia paga, campanhas on e offline e, principalmente, pela construção gradual de branding dos grandes atores B2C desse mercado, para conquistar um espaço no imaginário do público brasileiro — sempre considerando e valorizando nosso contexto cultural único.

Mas há um elemento ainda mais decisivo nessa equação (sim, vamos repetir mais uma vez): a construção de catálogo. E não apenas qualquer catálogo, mas um que seja diverso, bem produzido e atraente, pensado para impactar diretamente o primeiro grande grupo estratégico:

  • Leitoras e leitores, que passarão a consumir mais conteúdo literário por meio do áudio.

Como já apontamos em análises anteriores, há uma tendência crescente de comportamentos de leitura híbridos, em que leitores combinam diferentes formatos (impresso, ebook, audiolivro) e, com isso, aumentam o tempo médio dedicado ao consumo literário. A escolha do formato, muitas vezes, está diretamente ligada ao contexto de uso e à conveniência — o que torna ainda mais relevante a oferta a variedade de formatos disponíveis. Essas pessoas já podem ser impactadas hoje pela simples existência de um catálogo robusto em áudio. Esse catálogo começou a se tornar visível nos principais varejistas digitais, onde o público já está acostumado a adquirir seus livros — algo que, até pouco tempo, não acontecia no Brasil.

Mas quantas pessoas estão dispostas a baixar um novo aplicativo ou assumir uma assinatura exclusiva de audiolivros se, entre os 10 títulos de sua wishlist, com sorte, um ou dois estarão disponíveis em áudio? E quantas não estão?

Em 2024, o formato falado agregou, em média, 22% de receita adicional ao digital de uma obra. Quando alcançarmos um catálogo com 20 mil audiolivros no Brasil, esse percentual não se manterá estático — ele será exponencialmente maior. E esse é o caminho que pode, de fato, permitir ao mercado editorial alcançar uma segunda e ainda mais desafiadora camada através do áudio: o enorme público não leitor do Brasil.

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