Minha jornada com formatos digitais, dos primeiros passos até o Skeelo

Por Camila Leme

Escrever essa coluna foi um desafio, mas também um exercício bastante interessante. A Bookwire me propôs um tema com dois eixos, que num primeiro momento me pareceram desconectados: a expectativa e os planos do Skeelo e minha experiência ao longo dos últimos anos com o digital. Desde a chegada do convite comecei a pensar na minha trajetória e em como ligar os dois pontos. A primeira dificuldade foi precisar o início do meu contato com o digital. Talvez tenha sido no departamento de direitos de uma editora onde peguei o começo dos ebooks e o comecíssimo dos audiolivros.  Ali eu tentava garantir os direitos desses dois formatos um pouco às cegas, já que os canais não estavam estabelecidos e, portanto, não tínhamos muito definidos quais termos oferecer aos proprietários. O passo seguinte no digital foi numa entressafra de empregos, quando comecei uma produtora de audiolivros. Estruturei o modelo de negócio, fiz toda a parte burocrática de abertura de empresa, formei um casting e estava editando amostras, mas acabei não avançando com o projeto, porque decidi aceitar uma oportunidade em uma grande empresa.

Alguns anos mais tarde, entrei em uma plataforma de streaming ao vivo para gerenciar as operações do time de conteúdo. O mundo tinha acabado de se fechar por causa da pandemia e eu nesse emprego novo, sem poder perguntar baixinho as coisas mais bestas para algum colega gente boa. O começo foi sofrido, mas foi uma experiência profissional riquíssima, a empresa era extremamente horizontal, dinâmica, com uma cultura marcante e um forte espírito de comunidade.

Em 2022 um amigo me sondou para uma vaga que segundo ele era a minha cara. Num primeiro momento recusei porque estava feliz no emprego atual, ele insistiu e era a minha cara mesmo: fazer aquisição de direitos em um serviço de audiolivros que seria lançado no Brasil. Essa oportunidade reuniu muito do que adoro no trabalho: contato com editoras, avaliar catálogos, audiolivros e negociação.

E agora no Skeelo mais uma vez tudo se alinha num desafio que parece ter sido feito sob medida, ser responsável pela área de conteúdo. Logo na primeira semana me lembrei muito da plataforma de streaming ao vivo, pois encontrei aqui uma cultura igualmente forte, marcada pelo dinamismo e pelo senso de comunidade. O Skeelo é uma plataforma de livros digitais, mas é também uma enorme comunidade de leitores, que conta com o maior app e a maior rede social de livros do país, o Skoob, e tem como objetivo democratizar o acesso, a distribuição de livros e promover a transformação social por meio do conhecimento.

No Brasil, enfrentamos desafios significativos quando tratamos do acesso à leitura. Um país gigantesco, com uma logística complexa e cara e baixa pulverização de livrarias. Somado a isso, temos índices de baixa escolaridade e renda que impactam diretamente a formação de novos leitores. O Skeelo consegue endereçar muitos desses pontos com a distribuição massiva de livros por meio digital, facilitando o acesso a leitura não só pela distribuição, mas também ao oferecer formatos diferentes como audiolivro e minilivros.

Para os próximos anos, nossas expectativas são ambiciosas e seguem alinhadas com nossa missão. O plano é seguir inovando em tecnologia e modelos de distribuição para alcançar ainda mais pessoas, especialmente aquelas em regiões com menos acesso a livros físicos. Temos a meta de apoiar ainda mais o mercado editorial patrocinando relevantes, com divulgação de conhecimento, e contribuindo para instituições chave para o setor. Estamos nos estruturando para fornecer o maior número de dados para que o mercado possa fazer escolhas cada vez mais certeiras. E temos ainda o objetivo de intensificar nossos esforços na construção do acervo brasileiro de audiolivros, esse formato que tanto engaja, mas no qual muitos ainda hesitam em investir por conta do alto custo de produção.

Em muitas mudanças de emprego fiquei com a impressão de que estava deixando minha trajetória profissional um tanto tortuosa, mas agora olhando com mais cuidado vejo muitas similaridades e entendo que cada passo foi fundamental para chegar neste ponto, neste cargo e nesta empresa que reúne tanta coisa que gosto. Na minha cabeça achei que consegui juntar os eixos do tema, vamos ver se na de vocês também.

Camila Leme é diretora de conteúdo no Skeelo, com sólida experiência em aquisições, gestão de projetos e operações. Ao longo de sua trajetória, trabalhou em empresas como Audible, Twitch, Disney, Fox e Companhia das Letras.

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