De emergência à estratégia: como o digital se tornou parte essencial do planejamento editorial

Por Carolina Riedel

Em 2020, escrevi uma coluna para Bookwire sobre como os livros digitais ajudaram o Grupo Editorial Pensamento a atravessar um período que ninguém poderia ter previsto: a pandemia global. Naquele momento, o digital não era apenas uma alternativa – era, muitas vezes, a única forma de manter livros chegando aos leitores enquanto livrarias estavam fechadas e o mercado físico enfrentava quedas drásticas.

O cenário era de reação. Tínhamos um catálogo digital robusto, fruto de anos de conversão sistemática de nosso acervo, e isso nos permitiu aproveitar a demanda repentina por e-books. Campanhas específicas foram criadas, títulos ganharam destaque inesperado, e o que antes se imaginava levar dois anos para acontecer, aconteceu em dois meses. Era um momento de urgência e de aprendizado acelerado.

Cinco anos depois, o que era um “plano B” virou parte indiscutível do “plano A”. O digital deixou de ser um complemento eventual para se tornar peça estratégica no planejamento editorial — não apenas para o e-book, mas para um ecossistema que inclui também audiolivros, pré-vendas digitais e lançamentos simultâneos em múltiplos formatos.

Apesar de já termos naquela época muitos títulos convertidos, a lógica era que apenas algumas obras selecionadas tinham planejamento de lançamento digital alinhado ao físico. Hoje, essa mentalidade mudou completamente: trabalhamos com o conceito de simultaneidade, isso significa ajustar cronogramas, alinhar processos de produção e repensar o fluxo de trabalho para que a entrega em múltiplos formatos seja possível e coerente.

O digital dentro da estratégia

A incorporação do digital no planejamento exige uma integração real entre áreas que, no passado, trabalhavam de forma mais sequencial. Hoje, editorial, produção, marketing e comercial conversam desde o início sobre formatos, possibilidades de preço, ações promocionais e até recursos adicionais que podem enriquecer a experiência digital.

Além disso, essa estratégia abre portas para aproveitar melhor o investimento em marketing, explorar diferentes perfis de leitores e responder mais rápido a tendências, pois o digital permite ajustes de preço, inclusão de conteúdos extras e reposicionamento com agilidade.

No Grupo Editorial Pensamento, essa mudança trouxe um crescimento constante das vendas digitais ano a ano; maior alcance em regiões onde a distribuição física é mais complexa e maior sinergia para ações de catálogo e datas promocionais.

Mais do que uma transformação tecnológica, a adoção estratégica do digital representa uma mudança de mentalidade dentro das editoras. Não se trata mais de “converter” livros para e-book depois do lançamento físico, mas de criar um produto editorial concebido para existir de forma plena em qualquer formato.

Essa visão ampliada exige planejamento, investimento e, principalmente, a consciência de que o leitor é multiformato. Ele pode comprar o e-book para ler em viagem, o audiobook para ouvir no trânsito, e ainda querer o impresso para ter na estante. Atender a esse comportamento híbrido é, hoje, uma vantagem competitiva.

O que começou como uma resposta emergencial em 2020 se tornou, hoje, uma estratégia estruturada e alinhada ao mercado. O livro digital não substitui o físico, mas amplia o alcance, fortalece o relacionamento com os leitores e permite que editoras entreguem conteúdo de forma mais ágil, eficiente e relevante. E, acima de tudo, mantém vivo o propósito que move o setor editorial: conectar histórias e ideias aos leitores, independente do formato escolhido.

Carolina Riedel é diretora de marketing e vendas do Grupo Editorial Pensamento e diretora da Câmara Brasileira do Livro. Pós-graduada em administração de empresas pela FGV, trabalhou durante anos na área de consultoria antes de ingressar na Editora em 2009. Possui 16 anos de experiência no mercado editorial e é a quarta geração da família a trabalhar na Pensamento. Foi responsável por organizar e ampliar o departamento comercial e de marketing, além de implantar as áreas de produtos digitais e novos projetos. Hoje coordena também a área de logística da Pensamento.

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