A Feira do Livro de Frankfurt sempre foi um termômetro do setor, e este ano deixou uma mensagem clara para o mercado de audiolivros: estamos diante de uma encruzilhada, que exige tanto criatividade quanto estratégia. Duas apresentações em especial trazem insights valiosos para nós aqui no Brasil.
De um lado, tivemos a fala fundamentada em dados de Niclas Sandin, CEO da BookBeat, no painel “O que os ouvintes de audiolivros querem em 2025”. A análise da plataforma europeia revela um padrão crucial: os ouvintes são, por natureza, exploradores de gêneros, mas o que os transforma em assinantes fiéis é um conteúdo específico: a ficção narrativa. Sagas e séries – os fenômenos à la Harry Potter ou Jogos Vorazes – são os pilares que sustentam a retenção. A conclusão é um forte reforço para o nosso trabalho: a narração humana, com sua nuance e emoção, não é um mero detalhe de produção, mas o coração da experiência do audiolivro. É isso que cria o vínculo que faz um ouvinte voltar.
Do outro, um sinal de mudança pragmática. A Audible, em seu painel “Usando IA para Liberar o Potencial do Catálogo de Áudio”, apresentou suas próprias ferramentas para gerar narrações por IA. O movimento é significativo, especialmente para um mercado como o nosso. A justificativa é compreensível: a IA surge como uma alavanca para superar a carência de títulos em português, acelerando a disponibilização de catálogos e atendendo a nichos.
E agora, qual o caminho?
A lição que fica é de equilíbrio estratégico. A IA é uma ferramenta poderosa para dar escala, agilidade em processos de pré e pós-produção e ideal para revitalizar backlists e preencher lacunas. No entanto, os dados da BookBeat nos lembram que o investimento no cerne do catálogo – suas grandes ficções e séries – deve permanecer centrado na qualidade artística da narração profissional.
Para as editoras no Brasil, este é o momento de uma estratégia plural: adotar a tecnologia para ganhar abrangência, mas dobrar a aposta na produção imersiva e humana que constrói marcas e fideliza ouvintes. É na qualidade das nossas grandes narrativas que está o nosso maior diferencial.