Preciso me confessar, colegas

Por Gustavo Guertler

Colegas, eu pequei. Eu traí a nossa seita dos “Livros em Papel São Superiores”, traí os companheiros de partido que apostam todas as fichas em criar aquele produtão gourmet físico, e no digital só a conversãozinha básica está bom, com aquele aviso “também disponível em e-book”, para divulgar para alguma pobre alma que, sim, fizemos nossa obrigação, incluímos um e-bookzinho no orçamento.

Meu pecado é a ganância. A Isa, da Bookwire, me conduziu por esse mau caminho. Ela nos desafiou a criar e-books com conteúdo extra. Agora preciso me confessar aqui.

Nós, editores, costumamos cometer um erro grave (editores cometem muitos erros mesmo e dá pra fazer uma série de textos sobre eles): achar que o livro digital é uma mera extensão do livro físico. Não é. Livro físico é livro físico e livro digital é livro digital. Um não é uma extensão do outro. São dois produtos. Então por que simplesmente tratamos o livro digital como uma adaptação do livro físico para outra plataforma? Por que o livro digital não merece tratamento igual ao físico quando se fala de edição, estratégia e vendas?

Para quem trabalha há anos com produtos físicos, dar muita atenção para desenvolver produtos digitais às vezes parece pecado. Editor não faz isso não; vamos deixar para a galera que cuida da conversão orçar alguma coisa. Aqui era mais ou menos assim até que, no final do ano passado ainda, em uma das reuniões com a Bookwire (que renderam também uma dica de autor, por sinal), a Isa nos sugeriu um olhar mais atento para essa possibilidade, com a concordância da Paty, do marketing e planejamento. Não tem ideia boa que não dê trabalho. Mas a gente topou o desafio e botou a mão na massa.

Este ano decidimos fazer todos os e-books da Belas Letras com conteúdo extra. Começamos com a autobiografia do Anthony Kiedis, vocalista do Red Hot Chili Peppers, na nossa linha de música, em que incluímos no e-book fotos do show realizado pela banda no Brasil. Depois publicamos o Papai Punk, na linha de família, com depoimentos de pais brasileiros que vivem uma vida hardcore com seus filhos. Seguindo a mesma linha, o livro das mães, Mamãe Punk, para mães de adolescentes, convidamos a autora a produzir um texto extra para a versão digital. Substituímos o famigerado selo “também disponível em e-book” pelo selo “e-book com conteúdo extra”.

O ano ainda tem um caminho longo, a experiência está no início. Mas já detectamos uma sutil melhora na performance desses itens em comparação com outros itens da mesma linha. Descobri que é algo que não dá tanto trabalho assim (isso porque não sou eu que faço, é a Fernanda, minha colega do editorial). É um capricho que faz toda a diferença no produto final, para o leitor, e que é possível incorporar às rotinas de produção editorial sem impactar no orçamento final do livro geralmente. E o principal: pode dar um resultado superior no faturamento. Money, fiéis. Porque ninguém é santo.

Que a Bookwire seja louvada.

Amém.


Gustavo Guertler é publisher na Belas Letras, responsável pela área de livros nas Lojas Imaginarium, vice-presidente do Clube dos Editores do RS e entusiasta de iniciativas transgressoras. Contato: gustavo@belasletras.com.br

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