A palavra falada na cabine de gravação

O registro fiel da voz humana em uma sala de estúdio já foi dispendioso, caro e complexo. Por mais que alguns estúdios ainda mantenham toneladas de equipamentos analógicos e um exército de botões esperando para serem rodados, fato é que hoje podemos gravar vocais com boa qualidade lançando mão de um microfone, uma placa de áudio com um único canal de entrada e um software de gravação de áudio no laptop. 

É simples? Muito. Isso significa que podemos nos aventurar sem cuidado no universo da captação e edição de áudio? Para fins profissionais, aconselhamos que não. Embora o custo de produção de áudio tenha caído vertiginosamente nos últimos 15 anos, certas práticas comuns em estúdios – que antecedem o terceiro milênio – seguem bastante valiosas. Vamos a elas.


1 – Onde gravar: O som é uma onda mecânica que interage com cada material presente na sala de maneira única. Por tanto, espaços com acústica controlada são (ainda) um grande diferencial. E pode ter certeza de que você vai notar quando ouvir algo gravado em um quarto e, em seguida, algo registrado num ambiente tratado, dentro de um estúdio ou cabine de gravação. 

2 –Microfones: O ouvido humano é capaz de captar frequências de 20 a 20 mil Hertz (a nossa voz possui quase todas elas). É preciso, por tanto, escolher um microfone capaz de capturar essas nuances de maneira satisfatória. Podem ser microfones dinâmicos voltados para broadcast, como os clássicos SM7B ou RE20. Podem ser microfones condensadores, com mais sensibilidade e presença nas altas frequências – C414, Rode-NT1. Aliás, preferencialmente, tenha mais de uma opção na manga para valorizar as características das diferentes vozes que você receber.

3 – Posição na sala: Mantenha o microfone a uma distância de um palmo aberto do rosto da narradora ou narrador. Marque a posição do microfone para não alterar demais o timbre da voz em cada sessão.

4 – Aquecimentos vocais: Aconselhe seu casting a praticar exercícios vocais antes, durante e depois das gravações. Ofereça água. Uma maçãzinha. Mais água. Isso evita que incômodos barulhos de salivação sejam capturados pelo microfone.

5 – Direção: Outra velha prática que não sai de moda é a direção artística. Alguém que conheça bem a obra e seus personagens. Que identifique inconsistências nas diferentes entonações em diálogos, supressões de letras ou troca de palavras. Alguém que auxilie o narrador a manter o mesmo ritmo e dinâmica durante toda a gravação. Que proponha pausas de 40 em 40 minutos, em sessões de no máximo 3 horas. Que permita ao narrador ouvir e avaliar trechos do conteúdo. E o mais difícil: saiba corrigir sem inibir e mantenha um clima leve durante as gravações. 

6 – Texto adaptado e fácil de manejar:  Certifique-se de que o texto tenha sido devidamente adaptado para as sessões. Utilize um dispositivo posicionado em um pedestal, onde o narrador seja capaz de visualizar e manipular o miolo da obra – eventuais marcações e comentários – sem fazer barulho.


Por fim, vale lembrar que a estrutura técnica deve sempre atuar em função do principal: o direcionamento artístico de cada projeto. O jeito com que falamos muitas vezes diz mais que a palavra em si (e isso se refere tanto à narração quanto à direção, diga-se de passagem). Por tanto, não esqueça de levar consigo para a gravação uma boa dose de sensibilidade. Respeite e valorize a singularidade de cada voz. E ofereça mais um copinho d’água.

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