A voz que vem do coração

Por Patricia Fonseca

“Vamos comprar e pedir para alguém ler para nós Patricia!”. E então eu respondi: “Tem audiolivro!”. E a quantidade de sorrisos que se abriu ao meu redor foi como um abraço coletivo, quentinho como uma brisa quente de verão.

Estava participando de uma pedalada em prol da doação de órgãos em Goiânia quando percebi o verdadeiro poder do audiolivro. Nessa ocasião conheci um time renomado de atletas deficientes visuais, que pedalaram, lado a lado, com as centenas de pessoas pelos parques da cidade.

No final do evento alguns exemplares do livro Coração de Atleta foram sorteados e vibrando pela nova amiga paulista eles vieram me dizer: “Vamos comprar e pedir para alguém ler para nós Patricia!”. E então eu respondi: “Tem audiolivro!”. E a quantidade de sorrisos que se abriu ao meu redor foi como um abraço coletivo, quentinho como uma brisa quente de verão. Eles não precisavam “pedir” para ninguém… Tinha livro para eles!

Narrar meu próprio audiolivro não foi uma decisão difícil. Na minha cabeça “tinha que ser eu”, confesso. Afinal, que outra pessoa conseguiria dar o tom exato da emoção sentida e dos sentidos que escolhi ao garimpar cada palavra? Naquele texto cada frase, cada cena, cada construção eram parte do mar de águas pelo qual eu queria conduzir o leitor, como capitã nessa navegação.

E assim foi. Eu só não esperava ser navegada também, internamente, pelas mesmas águas. Reviver a história em voz alta me fez chorar infinitas vezes. Em vários momentos precisei parar a narração e respirar, beber água, para conseguir retomar. Porque é forte narrar. A voz tem poder. Se a palavra já emociona quando lemos, a voz transporta, tornando tudo ainda mais próximo e real. Quando terminei de narrar o episódio do dia em que chega o coração novo no livro, eu chorava de soluçar. Foi um presente reviver esse momento e toda a alegria de receber o sim de uma doação de órgãos novamente.

E o mais legal é perceber que o apelo do audiolivro vai muito além da acessibilidade. Muitas pessoas me contam que tem preferido o formato do audiolivro justamente porque tem o “plus” de sentir minha emoção. Outras encontraram no audiolivro uma opção para encaixar a “leitura” no meio do dia corrido e do trânsito não negociável. Me contam que eu “acompanho” elas até o trabalho e assim iniciam o dia mais gratas e cheias de energia por lembrarem que estão vivas e cheias de saúde! Quando comecei a escrever esse livro, como leitora apaixonada, não imaginei que ele viraria um audiolivro. Mas curiosamente, várias vezes para checar se meu texto havia chegado onde eu queria, eu o lia em voz alta para mim. Quando eu mesma me arrepiava, sabia que estava bom. Posso dizer que é uma alegria muito grande ver hoje, depois de tantos anos de dedicação e tanta vontade de entregar algo de valor para o leitor/ouvinte, onde a história e minha voz está chegando!


Patricia Fonseca nasceu em São Paulo em 1985. Economista formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, com extensão em Psicanálise e Psicologia Econômica pela PUC-SP, atuou como pesquisadora em Economia Comportamental. Depois de conviver por 30 anos com uma cardiopatia congênita, Patricia tornou-se a primeira triatleta transplantada de coração do Brasil. Com nove pódios conquistados em competições internacionais, sagrou-se vice-campeã americana de triatlo, vice-campeã latino-americana de triatlo, campeã latino-americana de natação e conquistou a medalha de bronze em 2019 e de prata em 2023 no ciclismo de equipe nas Olimpíadas dos Transplantados. Palestrante e fundadora do Instituto Sou Doador, é coautora do Projeto Lei Tatiane, que visa inserir o tema doação nas escolhas de todo Brasil. Recebeu o Prêmio Excelência Mulher pela luta em prol da doação de órgãos.

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