Audiobooks e imaginação

Em outras ocasiões já aproveitamos essa newsletter para reforçar o potencial do audiobook, apresentando nossa visão sobre o formato e trazendo convidados ilustres, como André Palme e Marina Pastore, para falar sobre o papel do áudio e sua inserção no mercado editorial brasileiro. 

Se antes falamos um tanto sobre o porquê de produzir audiolivros, agora queremos apresentar algumas dicas de como fazê-los. Por isso, ao longo dos próximos meses vamos analisar mais a fundo as etapas do processo de produção.

Esta primeira etapa vai tratar do poder de imaginar, em detalhes, como deve ser um audiobook.

Caso isso lhe pareça inócuo ou desimportante, peço que nos dê um voto de confiança e considere a seguinte pergunta: como você chega ao ponto que quer se não souber nem a que ponto gostaria de chegar? 

Por ser tão diferente dos outros formatos, vamos recorrer a exercícios de imaginação que nos trarão clareza.

1 – Imaginação
Para começar nosso exercício pedimos que escolha, em sua cabeça, um livro qualquer, pelo qual tenha apego. Pode ser um lançamento, um clássico, estar em domínio público, ser grande ou pequeno; tanto faz, contanto que você goste dele. Foi? Ótimo, então vamos seguir: agora imagine que você terá o poder/responsabilidade de escolher cada detalhe da voz que vai contá-la. Pode ser uma voz sábia e antiga, ou jovem e sensual, capaz de lhe transportar para fora da própria vida por algumas horas. Quem sabe a voz de uma confidente, de um réu confesso, de um gigante, de uma amazona… Enfim, já deu para entender, né?

Essa voz, que você imaginou tão bem é, provavelmente, o aspecto mais importante da boa contação de histórias. Mas a imaginação é um artifício muito poderoso que nos permite ir além: qual é o sentimento que predomina na narrativa? Como ela deve nos fazer sentir? Deve comunicar indignação, expondo as rachaduras no sistema penal? Sugerir a inocência da juventude ou o pavor diante da iminência da morte, a graça divina ou a danação eterna; a suspensão do tempo sentida por quem sente ter encontrado o amor, ou talvez a adrenalina de fugir de um cartel de traficantes de humanos? As possibilidades são infinitas.

Tais exercícios de imaginação são importantes porque abrem precedentes para que os audiobooks se desenvolvam a partir dos mesmos parâmetros que um livro físico ou ebook, com projetos editorial definido por trás de cada título. Essa visualização preliminar certamente será um diferencial na qualidade do seu produto. 

Aliás, pode inclusive ser útil imaginar o próprio audiolivro como uma personagem. Imagine-o como o caçula na distinta família dos formatos editoriais. Os oráculos lhe anunciam um destino grandioso, ainda que agora ande ofuscado pelas conquistas de seus irmãos mais velhos, e por isso caminhe um pouco à sombra. Como acontece em toda boa história, é certo que surgirá quem o tome debaixo das asas e trate de criá-lo. Nesta narrativa, torcemos para que sejam as editoras que darão ao jovem formato essa acolhida necessária, para que se desenvolva direito e a olhos vistos, em um negócio-mundo pleno de aventura e perigo.

Já imaginamos bastante, vamos então voltar à realidade e fazer um resumo da ópera:

é importante saber identificar aspectos que garantam que seu audiolivro faça jus à obra do autor, tenha a cara da sua linha editorial, seja alinhado com seus valores e sirva de fonte de cultura e satisfação para seus ouvintes/leitores. 

Se você chegou até aqui, meus parabéns e muito obrigado! A série continua no mês que vem, quando falaremos sobre curadoria, a fina arte de escolher o título certo para conversão. Até lá, deixamos algumas perguntas, dicas e spoilers-do-bem, para uma melhor capacidade de imaginar vastos catálogos de áudio: 

– Como seria a “capa” de um audiobook? (spoiler: por aqui usamos trilhas sonoras, assim não parece que o audiolivro começa numa folha de rosto)

– As faixas de um audiobook precisam ser divididas da mesma forma que o índice da obra impressa? (dica: imagine sempre o melhor para quem for escutar, depois se imagine escutando)

– Como fica o audiobook de um livro cheio de tabelas e gráficos? (spoiler: já existem vários)

– Todo bom livro físico daria um belo audiobook? (spoiler: não, vale escolher os títulos com carinho. Imagine como ficarão quanto prontos, e escolha os que parecerem melhores)

– O que cabe melhor no audiobook do que no livro físico ou impresso (dica: uma entrevista? Um compilado de bastidores e erros de gravação? Um recado do autor? Uma amostra de outros títulos da editora?)

– O que livros feitos de som podem fazer por um país sem intimidade com a própria literatura? (spoiler: muito)

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