Talvez você já tenha percebido ao acessar a página de um produto ou ao tentar subir um novo arquivo de EPUB que o nosso validador gera um relatório de acessibilidade. Integramos o validador ACE by DAISY ao OS e agora você pode checar se os seus arquivos estão seguindo os padrões de acessibilidade estabelecidos para produtos digitais.
Este é um grande passo para a Bookwire. Para nós, acessibilidade vai muito além de um simples EPUB3 com semântica correta e descrição alternativa de imagens. Não entendemos acessibilidade como uma lei, nem vinculamos a ideia apenas ao PNLD. Para nossa equipe, acessibilidade significa inclusão. Um passo necessário para um mundo mais justo. Um projeto essencial para formação de leitores em todos os níveis.
Tornar um produto acessível significa tê-lo disponível para todos, mas também funcionando para todos. Os formatos de EPUB2 e PDF nem sempre seguem os padrões de acessibilidade estabelecidos. Produtos que não estão disponíveis em todas as lojas e nem nas bibliotecas não são totalmente acessíveis. O leitor precisa ter a liberdade de escolher onde e como vai ler, não só pela comodidade, mas também pela necessidade.
A Bookwire sempre está integrando novos canais nos mais diversos modelos de negócio, de vendas à la carte a assinaturas e bibliotecas. Com essa nova adição à nossa plataforma, estamos dando mais um passo para garantir que as editoras no Brasil tornem seus catálogos cada vez mais acessíveis.
Você não é obrigado a subir um ebook acessível a partir de agora. O propósito dessa nova validação é te ajudar a entender o que se pode modificar para que seu produto venha a ser acessível. Caso você já produza ebooks acessíveis, o validador vai te ajudar a verificar se todos os parâmetros de acessibilidade estão sendo seguidos. Veja abaixo algumas imagens do novo visual da nossa validação de arquivo.
Caso tenha dúvidas, criamos também um novo botão de ajuda, o qual vai te dar todos os detalhes dessa validação:
Alguns dados relevantes, retirados do site da Fundação Dorina Nowill[1]:
Segundo dados do IBGE de 2010, no Brasil, das mais de 6,5 milhões de pessoas com alguma deficiência visual:
- 528.624 pessoas são incapazes de enxergar (cegos);
- 6.056.654 pessoas possuem baixa visão ou visão subnormal (grande e permanente dificuldade de enxergar);
Outros 29 milhões de pessoas declararam possuir alguma dificuldade permanente de enxergar, ainda que usando óculos ou lentes.
Segundo dados do World Report on Disability 2010 e do Vision 2020, a cada 5 segundos 1 pessoa se torna cega no mundo. Além disso, do total de casos de cegueira, 90% ocorrem nos países emergentes e subdesenvolvidos. Estima-se que até 2020 o número de pessoas com deficiência visual poderá dobrar no mundo.
Para além das deficiências físicas, hoje as redes de livrarias se concentram em cidades grandes, o que significa que a maior parte da população depende de e-commerce ou bibliotecas para ter acesso a livros. Juntando a isso o fato de estarmos passando por uma pandemia e vivendo em quarentena há cerca de 5 meses, o acesso ao livro físico ficou ainda mais limitado.
Outro ponto que devemos considerar é que 50% dos trabalhadores ganham menos que um salário mínimo. O acesso a bibliotecas públicas garante que essas pessoas não sejam excluídas também – e bibliotecas públicas também podem ter ebooks.
O que diz a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146), também chamada de LBI?
Para que existe a lei?
Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.
Para quem é a lei?
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
Para a LBI, tornar um produto acessível significa disponibilizar o mesmo produto para todas as pessoas, sem diferenciação, e em todos os canais viáveis. Ter um produto diferente, acessível em formato diferente e com aquisição também diferenciada tornaria o processo excludente e não inclusivo. Para publicações digitais, a conversa fica mais simples: é possível fazer um EPUB acessível desde a sua concepção, sem necessariamente alterar o projeto original e sem grandes custos adicionais. Ou seja, um único arquivo que serve para todos os propósitos e pode ser vendido no varejo para todos os públicos.
Inclusão é dar iguais oportunidades para todos. Se uma pessoa sem nenhum tipo de deficiência tem a liberdade de escolher a loja na qual vai comprar o seu ebook, em qual dispositivo vai ler e como vai ler, pessoas com deficiência devem desfrutar do mesmo privilégio.
Art. 4º Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação.
§ 1º Considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas.
Mas vamos à questão que não quer calar… O que torna um EPUB acessível?
De forma resumida, uma publicação digital se torna acessível se ela puder ser lida por ferramentas leitoras de tela (Text-to-Speech) sem problemas, não havendo perda de conteúdo significativo para o texto (por exemplo, imagens, gráficos e tabelas) e com navegação fácil e completa (sumário e busca).
Para simplificar, criamos os 10 mandamentos do EPUB acessível:
- O cenário ideal é um EPUB3 com layout fluido;
- Seguir as diretrizes do HTML5 corretamente;
- Semântica de EPUB3 aplicada em todas as seções;
- Gambiarras estão estritamente proibidas!
- Usar fontes licenciadas e que sejam próprias para telas;
- Precisa haver descrição alternativa para as imagens. Imagens decorativas que não acrescentem nada ao texto devem estar com alt text vazio;
- O sumário HTML precisa ser completo: itens do sumário, page list e landmarks;
- Fórmulas matemáticas devem estar preferencialmente em MathML ou, se for uma imagem, com um alt text com a fórmula escrita por extenso;
- O contraste das cores utilizadas deve ser sempre de 3:1;
- Capitulares normalmente tornam o texto inacessível, pois se não forem editadas da forma correta serão lidas separadas do resto da palavra.
Também sugerimos que as fontes sejam sem serifa e que não haja muitas fontes diferentes num mesmo epub. O ideal é usar fontes mais comuns também. Segue aqui algumas sugestões, baseadas em diversas pesquisas feitas por web designers especialistas em acessibilidade[2]:
- Famílias de fontes sem serifa: Arial, Calibri, Century Gothic, Helvetica, Tahoma, Verdana
- Famílias de fontes com serifa: Times New Roman, Georgia
- Famílias de fontes com slab serif: Arvo, Rockwell
Se a sua editora pretende produzir ebooks acessíveis, a Bookwire pode te ajudar nesse processo. Entre em contato com sua gerente de contas ou através do email brasil@bookwire.com.br para maiores informações.
Abaixo, disponibilizamos algumas leituras interessantes sobre o assunto.
- Portal do Livro Acessível: http://livroacessivel.org.br/
- Lei Brasileira de Inclusão: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm
- Cartilha de acessibilidade na web da W3C Brasil: https://www.w3c.br/pub/Materiais/PublicacoesW3C/cartilha-w3cbr-acessibilidade-web-fasciculo-I.html
- Artigos do José Fernando Tavares, da Booknando, sobre acessibilidade: http://booknando.com.br/category/acessibilidade/
- Acessibilidade na Web: tudo o que você precisa saber sobre o assunto! – Blog do HandTalk: http://blog.handtalk.me/acessibilidade-na-web/
- Dos and don’ts on designing for accessibility [em inglês]: https://accessibility.blog.gov.uk/2016/09/02/dos-and-donts-on-designing-for-accessibility/?fbclid=IwAR16C3zTK5CISDpMVIwwYX6X-fpe-FkBS5hZWEL6pr-aIi9oh2tasE2QgIM
- The development and availability of accessible books [em inglês]: https://www.disabilityartsinternational.org/resources/the-development-and-availability-of-accessible-books/
- Diversos artigos e vídeos da Booknet Canada sobre acessibilidade em livros digitais [em inglês]: https://www.booknetcanada.ca/blog/2020/8/17/tech-forum-2020-recap-accessibility
- WemAIM Contrast Checker – Para checar se a escolha de cores e contrastes está dentro dos parâmetros de acessibilidade: https://webaim.org/resources/contrastchecker/
- Inclusive Publishing – Improving the Accessibility of your Mainstream Digital Content [em inglês]: https://inclusivepublishing.org/publisher/
[1] https://www.fundacaodorina.org.br/a-fundacao/deficiencia-visual/estatisticas-da-deficiencia-visual/
[2] “Designing Accessible Content: Typography, Font Styling, and Structure”: <https://webdesign.tutsplus.com/articles/designing-accessible-content-typography-font-styling-and-structure–cms-31934>
Atenciosamente,
Equipe Bookwire Brasil