Curadoria, ou a fina arte de escolher o título certo

Na coluna passada começamos a falar sobre como produzir um audiobook, valendo-nos de imaginação e inteligência para pensar as características que um bom fonograma deve ter. Agora vamos dar sequência organizando critérios para escolher os melhores títulos para conversão conforme o catálogo que tivermos à disposição. É uma etapa importante na produção de audiobooks geradores de receita, capazes de obter destaque na mídia, em canais de vendas e apresentar seu conteúdo à novos ouvintes e leitores.

Para começar de forma simples, que tal criar um conjunto dos títulos mais fortes em seu catálogo? Os critérios podem ser resultados de vendas, a qualidade do texto, o peso do autor, títulos-referência em determinado assunto, lançamentos de potencial e afins.

A ideia é que essa pré-seleção traga um senso inicial de organização e assim podemos refinar a pesquisa em etapas. Uma vez que tenhamos feito isso, podemos aplicar os “filtros” a seguir.

Sazonalidade – Vale a pena separar sua seleção inicial e dividí-la entre lançamentos e backlist. (se sua lista inicial não continha nenhum título de backlist ou nenhum lançamento, talvez valha reconsiderar). O critério da sazonalidade pode trazer um novo fôlego para títulos que são fortes, mas já foram lançados a algum tempo, além de abrir caminho para lançamentos multiformato, que impulsionam o resultado de vendas no lançamento. Você lembra de como os formatos diferentes acrescentam à receita de um mesmo título, certo?

Aliás, essa avaliação também é uma boa oportunidade para alinhar sua estratégia de audiobooks junto à dos impressos e ebooks!

Demanda – Certos segmentos já despontaram como tendências de consumo no Brasil, como finanças e negócios, espiritualidade e religião e desenvolvimento pessoal, que apresentam resultados mais expressivos. Esse critério ajuda a avaliar o quanto vale apostar na diversidade do seu catálogo, seja produzindo nos segmentos mais desenvolvidos e apostando em áreas onde há menos competição, ou ambos, conforme sua linha editorial.A essa altura do jogo ainda existe bastante espaço para criação de demanda!

Estrutura do texto – Alguns títulos vão parecer perfeitos para conversão em fonograma (leia-os em voz alta para experimentar quais, se narrar bem parecer difícil de cara, é porque é mesmo). Já outros vão impor um desafio maior à narração envolvente que desejamos, um bom exemplo é o de textos que dependem demasiado de notas de rodapé e citações (o filtro da demanda pode ser um bom critério de desempate nesse caso).

Total de páginas – Vale ficar atento ao tamanho dos livros promissores, já que o custo e o prazo de produção do audiobook estarão diretamente ligados ao volume de texto e a obra vai demandar mais tempo de escuta dos ouvintes. Feita essa ressalva, vale lembrar: o áudio de Sapiens, de Yuval Noah Harari segue no top 3 dos audiobooks mais vendidos do Brasil desde o lançamento, no fim de 2018, e tem quase 19h de duração! Uma escolha acertada.

Elementos visuais – Segmentos como história, biografias, negócios e educação financeira, livros técnicos, científicos, biomédicos bem como infantis e infanto-juvenis muitas vezes vêm carregados de informação não-verbal. Podem ser gráficos, tabelas, ilustrações, fotos, mapas e desenhos. Na maior parte dos casos uma conversão de qualidade é possível, mas irão demandar mais em termos de investimento e tempo, desde a preparação editorial do texto.

Elementos da linguagem – Aqui o principal a considerar são expressões em outras línguas. Se seu livro contém quatro citações longas em latim, uma personagem que dialoga em alemão e a história se passa em diversas províncias da China, é importante considerar que a narração deverá dar conta de todos esses elementos para que a variedade seja um atrativo ao invés de um problema.

Temática – Certos tipos de livro, como manuais ou livros de referência, não foram concebidos para serem lidos do começo ao fim, o que pode tornar a navegação confusa para o ouvinte. Com títulos desse tipo, considere se existe espaço para inovação em termos de produto e formato ou se vale mais investir em outro título.

Referências – Pode parecer óbvio, mas conferir o bom trabalho de nossos pares ajuda a arejar o pensamento, trazer novas ideias e sanar dúvidas. Conferir audiobooks dos seus autores em outras línguas, por exemplo, ou talvez dar uma googlada sobre o Audie Awards, espécie de Oscar do audiobook, que premia títulos em mais de 15 categorias desde 1996(!), ou conhecer mais sobre os outros formatos de palavra falada como podcasts e audiodramas. Referências são vitais e ajudam a bater o martelo em situações nas quais é difícil decidir.

É claro que há muitos critérios que podem influenciar sua curadoria, como a evolução de receita em mercados mais consolidados, o orçamento disponível para conversão, questões de direito autoral, royalties e afins. O objetivo aqui é levantar pontos que nos apurem o senso do que é importante para criação de bons fonogramas. É um bom caminho para fazer com que essas obras tragam resultado às editoras e façam jus ao calibre da produção literária e editorial nacional.

Obrigado e até mês que vem!  Em tempo: leu o texto e tem algo a acrescentar? Deixe seu comentário, queremos conhecer sua opinião!

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