Por Jonas Gomes
Sobre as memórias de quando cursava MBA, há mais de 10 anos, lembro-me das aulas e discussões sobre Mobile Marketing que apresentavam naquele momento o Brasil como 5ª maior base mundial de celulares (110 milhões de aparelhos) e sobre as inúmeras possibilidades de uso deles em campanhas via SMS e Bluetooth. Hoje, quando presencio meu filho fazendo trabalhos escolares no celular, poderia concluir que as funcionalidades foram ampliadas para algumas finalidades, ao menos para os jovens.
No mesmo período estava nascendo a editora, na qual ainda hoje atuo, e a novidade foi a aquisição de um device ainda estranho para nossos hábitos de leitura, mas que de cara encantou a todos no setor. Sim, era um Kindle que ainda possuímos por aqui apelidado de tijolão, sendo ele hoje um senhor aposentado que fora substituído por modelos mais modernos.
Os assuntos e novidades da época pareciam estar nos levando para caminhos óbvios: smartphones com mais funcionalidades, livros digitais, e-Reader e Mobile Marketing. Parecia fácil conectar tudo isso numa estratégia de mercado promissor. De lá pra cá, acompanhei o nascimento de distribuidores de livros digitais, os lançamentos da Kobo e Lev por essas terras e as profecias acerca do livro digital num país de poucos leitores.
De fato, sempre acreditei e continuo acreditando que o formato digital é um grande facilitador de acesso aos conteúdos escritos para todas as finalidades a que eles sejam propostos. Acredito, também, que a discussão acerca de alguns mitos que viraram jargões em debates sobre o tema, como “fim do livro impresso”, “canibalismo”, “concorrência entre digital/físico” já deveriam estar descartados, pois sabemos que o digital é complementar e, ao contrário do que ainda pensam alguns profissionais, é impulsionador de venda e divulgação dos impressos.
Relembrando os princípios elementares de marketing, debatíamos sobre as tendências inovadoras para serviços e produtos voltados aos clientes, menos produtos e mais experiências para os consumidores, os Pês e Cês etc., e que, embora hoje discorde de muitos deles, sinto dizer que, em se tratando de livro digital, quase nada foi feito pelas editoras para difundir a “novidade”. A constatação disso é com base em experiência prática, no trabalho das Edições Sesc com contato direto com o público em eventos de médio e grande porte como, por exemplo, a recente finalizada Bienal do Livro de São Paulo.
Assim como na Bienal, na casa Edições Sesc na Flip, nas feiras e lançamentos de livros, adotamos como prática demonstrar simultaneamente livros impressos e digitais, com destaque proposital para mobiliário diferenciado com informativos e curiosidades do universo digital. Nesses momentos nos deparamos com grande quantidade de pessoas que nunca sequer tiveram contato com um e-Reader e ainda pensavam ser o livro digital uma versão PDF de seu conteúdo, sejam eles leitores iniciados ou iniciantes.
As políticas da editora contemplam ainda um setor editorial exclusivo para livros digitais que, além da conversão de títulos impressos, publica temas em formatos diferenciados e adequados somente para o digital. Entendendo que há um longo caminho pela frente, foi adotado como política o destaque para a informação da versão digital em todo material de comunicação, como catálogo, anúncios, site e redes sociais.
Há uma inquietação no sentido de pensar o que e como fazer para melhorar a exposição de um produto ainda distante da maioria das pessoas. Juro, temos tentado, mas é quase impossível encontrar exemplos e referências viáveis para potencializar mais ações comerciais, principalmente nos pontos de vendas.
Algumas questões como: qual modelo ideal para lançar um livro digital? É possível criar e explorar formas, cores e sensações num produto virtual? Deveríamos buscar referências na música, cinema e games? Por aqui, muitas perguntas, poucas respostas e algumas iniciativas que entendemos ser um bom início para contribuir com a democratização do acesso.
Jonas Gomes é coordenador de Marketing/Comercial das Edições Sesc SãoPaulo. Formado em Administração de empresas, com pós-graduação e MBA em Marketing, possui especialização em Publishing. Gosta do que faz na editora e, fora dela, cervejas artesanais.