Por Mariana Mello e Souza
Você pode não ter experiência com o processo de gravação, os detalhes da edição do som ou como juntar tudo num produto final de qualidade. Mas você, como editor, conhece algo muito mais valioso: o livro.
Então você trabalha com livro (impresso ou digital) e te pedem para produzir um audiolivro – o que vem à sua mente?
Se você não sabe por onde começar, calma – é menos complicado do que parece. Você pode não ter experiência com o processo de gravação, os detalhes da edição do som ou como juntar tudo num produto final de qualidade. Mas você, como editor, conhece algo muito mais valioso: o livro.
O seu narrador é personagem? É homem ou mulher? É jovem ou mais velho? Inocente e alegre? Maduro e experiente? A temática do livro é não ficção, ficção, drama, aventura, infantil, biografia…? O trabalho pede múltiplos narradores ou somente um?
Todas essas perguntas ajudam a montar o perfil do narrador. A partir desses dados iniciais, o estúdio pode procurar vozes que se encaixem no perfil e então te enviar testes de narração para sua avaliação e seleção.
Uma vez selecionada a voz, pode ser feito um briefing mais detalhado com o estúdio e o narrador para falar sobre a história e sobre o tom do livro. No caso de O conto da aia, por exemplo, temos um governo autocrático e controlador, as personagens são reprimidas e não sabem em quem confiar, portanto o tom é sóbrio e traz uma rebeldia velada.
Já na saga Jogos Vorazes, temos uma personagem jovem, séria, rebelde e com um temperamento mais volátil. É também uma distopia, porém tem mais ação e é menos introspectiva do que O conto da aia. Além disso, traz uma variedade de personagens e, como editor, você pode apontar quais precisam de um cuidado maior da narração. Afinal de contas, imagina como o narrador poderá criar múltiplas vozes e depois mantê-las organizadas durante a gravação se não souber quem é personagem principal e quem é secundário?
Além do perfil da narração, do tom/ritmo do livro e de quem são seus personagens principais, outra parte importante do briefing é o guia de pronúncias. Se o seu livro possui termos em língua estrangeira, palavras inventadas ou até mesmo nomes de lugares e pessoas cujas pronúncias você queira padronizar, é interessante preparar um guia para ser usado como referência ao longo da produção.
Esse guia pode ser feito pelo autor, pelo editor ou até mesmo sugerido pelo estúdio e aprovado pelo editor responsável. Pode ser enviada uma gravação de áudio e/ou uma lista com a escrita fonética dos termos. Se o livro possui imagens ou gráficos, também pode ser feito um guia de descrição das imagens.
Briefing concluído, o estúdio pode começar a trabalhar. Acabou por aqui? Não, tem mais uma etapa – a revisão. A maioria dos estúdios faz uma revisão do audiolivro, mas é interessante, sempre que possível, que você, como responsável pelo audiolivro na editora, também faça uma revisão do arquivo.
Para isso, é necessário ouvir o áudio e ler o livro ao mesmo tempo. Assim é possível identificar eventuais erros de divergência de texto (quando falta algum texto ou alguma palavra foi lida incorretamente), de entonação (um erro mais sutil, já que a entonação que damos ao texto e suas pontuações podem modificar o significado da frase) e erros de padronização de pronúncia, entre outros. Pronto! Agora é só disponibilizar e divulgar o seu novo produto. Quer seja uma opção pela acessibilidade ou pela praticidade de ouvir a história enquanto fazemos outra atividade, o audiolivro é mais um formato que vem para enriquecer a experiência do leitor. Então, qual vai ser a sua próxima história?
Mariana Mello e Souza é coordenadora de livros digitais da Rocco, leitora voraz, amante de Harry Potter, Tolkien, heróis da Marvel e da DC, contos de fadas e romances com final feliz.