Por Patth Pachas
Gene Roddenberry descreveu lá atrás o teletransporte e verdade seja dita: nas páginas de um livro isso sempre foi uma realidade. Somos teletransportados o tempo todo para os lugares mais incríveis. O futuro, com certeza, é um deles.
“O espaço: a fronteira final. Estas são as viagens dos livros em sua missão de explorar novos caminhos, pesquisar novas maneiras de informar, divertir, aguçar a curiosidade e entreter, se apresentando audaciosamente em diversos formatos para chegar ao leitor.”
Se essa frase remeteu você à saga “Star Trek”, atingi meu objetivo: Capturei você pela memória afetiva!
Em 1966, Gene Roddenberry, criador da série batizada no Brasil de “Jornada nas Estrelas”, imaginou um universo com naves, máquinas, aparelhos e situações, que, em alguns casos, se tornariam realidade décadas depois. Sempre me diverti com autores de ficção científica, que tentam adivinhar o que virá pela frente. De certo modo, nós, do mercado editorial, fazemos o mesmo todos os dias. Não queremos perder o bonde da história ou, nesse caso, a USS Enterprise da história.
O livro digital já é o futuro do livro? Como a Tenente Uhura estará fazendo suas leituras em 2254? Não vou tão longe. Para começar, fico imaginando como será o nosso mercado em 2054.
Antes de prever o futuro, porém, voltemos um pouco a um passado não muito distante. Em 2010, a Panda Books lançou seu primeiro livro digital, em parceria com a Gato Sabido. Começamos com títulos importantes para testar a reação dos leitores. No mesmo ano, colocamos no mercado o audiolivro “O que podemos aprender com os gansos”, do consultor de empresas Alexandre Rangel.
A Panda Books sempre teve olhos para as inovações e os novos formatos. Acreditamos que a escolha deve ser exclusivamente do leitor e, por isso, devemos lhe oferecer todas as possibilidades que existirem: títulos que possam ser lidos em papel, na tela do computador, num leitor digital ou no onipresente celular.
A partir de 2011, decidimos que todos os nossos lançamentos teriam versões digitais junto com o livro físico. Apostamos, trabalhamos, ora acertamos, ora erramos, pesquisamos, avaliamos e, no final, aprendemos que o futuro se constrói no dia a dia. Também nos aventuramos em produzir alguns títulos apenas em ePubs, mas não fomos muito felizes nesse quesito.
Em 2014, quando as livrarias que comercializavam os digitais se expandiram (tínhamos Amazon, Cultura, Google, Kobo, Nuvem de Livros e Saraiva), estávamos preparados para colher os resultados e eles, de fato, começaram a aparecer.
Mas o que representou um grande salto na distribuição nacional e internacional foi a parceria com a Bookwire, iniciada há nove anos. Essa união nos fortaleceu na hora de enfrentar os desafios da pandemia em 2020, quando o livro digital teve um forte impulsionamento gerado pela situação mundial.
Não creio no final do livro em papel. Ele existirá no século XXIII para alegria de todos da Federação Unida de Planetas. Conviverão muito bem com livros que poderão ser lidos ou ouvidos em celulares cada vez mais modernos, em podcasts, em redes sociais, em clubes de leitura. Livros em versões cada vez mais divertidas, interativas e até gameficadas. Já que sonhar é sempre permitido – e “Jornada nas Estrelas” está aí para confirmar -, fico imaginando um livro que seja capaz de projetar seu texto no teto para quem quiser fazer a leitura no quarto, deitado na cama, antes de dormir. As crianças vão se apaixonar. Gene Roddenberry descreveu lá atrás o teletransporte e verdade seja dita: nas páginas de um livro isso sempre foi uma realidade. Somos teletransportados o tempo todo para os lugares mais incríveis. O futuro, com certeza, é um deles.
Patth Pachas é jornalista de formação e empresária de ofício. É sócia da Panda Books, editora que está completando 25 anos no mercado em 2024. É trekker de carterinha e até já pensou em aprender a língua klingon.