Por Dailton Filippin
E eu, olhando para a tela do computador várias vezes ao dia, com a fé dos desesperados, já começava a buscar razões para um eventual fracasso do plano.
Calma, caro leitor. Não vou falar aqui sobre literatura erótica, embora seja um segmento bem lucrativo 😊. Quero apenas contar uma pequena e divertida parte da história dos ebooks no Brasil.
Em meados de 2004, poucos anos após o estouro da bolha das empresas ponto.com — uma quebradeira generalizada de startups baseadas na Internet — eu perambulava pelas editoras de São Paulo, tentando convencer editores a publicar meus livros sobre e-commerce. Definitivamente, em função da crise do setor, o momento não era nada propício para tal missão, era como tentar vender sorvete no auge do inverno.
Na minha peregrinação, fui até chamado de maluco por acreditar que a Internet, considerada na época apenas um meio de mandar mensagens e bisbilhotar a vida alheia no Orkut, pudesse servir para se fazer qualquer tipo de negócio e muito menos funcionar como canal de venda de qualquer coisa. Bem, o que a Internet representa para os negócios hoje, vinte anos depois, dispensa comentários. Então, voltemos à nossa história.
Depois de ouvir um sonoro “não” por dezenas de vezes, cheguei à conclusão de que meus livros não eram desejados, e o projeto adormeceu por algum tempo. Porém, como tenho uma dificuldade nata para lidar com “nãos”, fui em busca de uma alternativa para mostrar ao mundo os meus queridos rebentos digitais.
Nos Estados Unidos já havia a possibilidade de baixar livros eletrônicos no formato PDF, e no Brasil já existia a pioneira Submarino e outras lojas vendendo produtos físicos. Então, pensei que poderia vender meus livros pela Internet por meio de uma loja virtual simples, com a única diferença de que, ao mandar o e-mail agradecendo o pagamento, o ebook em PDF já seguiria junto como anexo. E assim foi feito! “Agora”, pensei naquele momento, “só falta aguardar as milhares de vendas dos meus quatro ebooks que vão jorrar como mágica da tela do meu computador”.
Naturalmente, a história não foi bem assim. No primeiro dia… zero vendas. No segundo… idem. Na primeira semana… nada. E eu, olhando para a tela do computador várias vezes ao dia, com a fé dos desesperados, já começava a buscar razões para um eventual fracasso do plano.
Até que, em uma bela manhã, sonolento e já meio descrente, caminhei até o quarto onde ficava o computador (sim, eu já fazia “home office” 20 anos antes de virar moda 😊. Liguei a máquina, e, ao abrir o administrativo do meu estabelecimento digital, a informação explodiu na tela: VENDA REALIZADA!
Agora, pergunto a você, caro leitor, o que mais poderia fazer um radiante empreendedor ao ver que a mágica havia acontecido? A Web havia feito minha primeira venda enquanto eu dormia, e a minha conta bancária já estava R$ 19,90 mais gorda. Era pura magia!
Abracei o monitor IBM até onde meus braços alcançaram e tasquei um beijo cinematográfico na tela, bem no ponto que dizia: VENDA REALIZADA!
Naquele momento, eu sabia instintivamente que, se eu havia conseguido vender um ebook, eu poderia vender 2, 4, 16… e muito mais. E foi exatamente isso que ocorreu nos anos seguintes.
Hoje, passados 18 anos da sua fundação, em 2006, a LeBooks, primeira editora digital do Brasil e primeira loja virtual de ebooks, tem um acervo de mais de 1.000 títulos e já comercializou mais de 800 mil ebooks. Mas eu nunca vou esquecer aquela primeira venda e aquele primeiro, e único, beijo na tela do computador. Foi pura magia!
Dailton Filippin é graduado e Mestre em Administração pela Fundação Getúlio Vargas, autor de cinco livros sobre ecommerce e fundador da Lebooks Editora e Livraria.