O inegável potencial do e-book em tornar a leitura mais acessível

Por Alexandre Martins Fontes

O e-book e o livro de papel são parceiros, e não inimigos, ainda mais num País em que o livro chega para tão poucos, em que a imensa maioria das cidades sequer possui uma livraria

Quando a Amazon lançou o seu leitor digital – o Kindle – e deu assim um impulso gigantesco para a popularização do livro eletrônico, não demorou muito tempo para que começassem a surgir as mais diversas teorias futurísticas sobre o que aconteceria no mercado livreiro. Para alguns, o livro de papel encolheria bastante, talvez a ponto de quase deixar de existir. Já outros apostavam num equilíbrio possível. Criou-se até uma rixa, com leitores mais puristas (digamos assim) bradando contra a heresia de se ler um livro num dispositivo sem alma e sem o charme, o toque e o cheiro do formato estabelecido na humanidade há séculos.

O ser humano adora fazer previsões, especialmente acerca de um elemento que carrega um alto grau de imponderabilidade em qualquer previsão de grandes proporções: o próprio ser humano. O fato é que não só o livro de papel não chegou sequer perto de acabar como, acima de tudo, o e-book se provou um grande aliado da leitura. E o mesmo vem se mostrando com o “recém-chegado” audiolivro, que num mundo cada vez mais tecnológico e com dezenas de aplicativos de celulares ao alcance das mãos, segue construindo um mercado promissor.

Na Editora WMF Martins Fontes, a história com o livro eletrônico começou timidamente em 2012, quando lançamos os primeiros títulos. Para se ter uma ideia, três anos depois, em 2015, ainda não passava muito de 2% o número de livros do catálogo que já existiam na versão eletrônica. Naquele ano, o título campeão de vendas, o xodó dos adeptos da dieta sem glúten Barriga de trigo, atingiu a marca de 50 e-books vendidos, o que não representou 0,2% do total que a versão em papel conseguiu alcançar. A comparação da venda total de e-books em 2015 com o faturamento dos livros impressos deixa o percentual ainda mais irrisório, com outro zero após a vírgula. No entanto, já naquela época, não era tão raro assim chegarem leitores em nossas livrarias ou através das mídias sociais, querendo saber mais sobre um autor ou coleção que haviam conhecido primeiro no formato digital.

O investimento seguiu o seu ritmo e a realidade foi mudando. Em 2018, o primeiro volume da série The Witcher, O último desejo, vendeu em formato eletrônico 20% do total de exemplares vendidos nas versões impressas (o livro tem duas capas distintas). Em 2019, ano que marcou também a nossa primeira produção de audiolivro, os números em relação aos e-books já eram mais robustos, com um faturamento na casa de centenas de milhares. E no ano seguinte, com clara influência da pandemia horrorosa que o mundo vem enfrentando, os números de 2019 quase que triplicaram. Em 2020, com mais de 10% do catálogo contemplados também no formato eletrônico, as vendas de e-books passaram de 3% do total de nosso faturamento. Com um detalhe importante: num ano em que a editora teve um crescimento de cerca de 40% em relação a 2019, excluindo-se aqui vendas governamentais.

Ainda hoje, muito se fala sobre o percentual que as vendas de e-books representa no faturamento da maioria das editoras brasileiras. Porém, é inegável o potencial do e-book em tornar a leitura mais acessível (e, portanto, mais democrática), em todos os sentidos. O e-book e o livro de papel são parceiros, e não inimigos, ainda mais num País em que o livro chega para tão poucos, em que a imensa maioria das cidades sequer possui uma livraria. Particularmente, sou um entusiasta dos e-books, dos audiolivros, dos livros impressos, e digo mais: das livrarias independentes, de nicho, das virtuais, dos sebos. E se amanhã ou depois outras pessoas tiverem novas ideias para que mais gente possa ler e trabalhar com livros, de uma maneira que mantenha viva a diversidade e ofereça a todos mais caminhos para chegarem até a leitura, podem ter certeza de que contarão com o meu apoio.


Alexandre Martins Fontes é formado em Arquitetura pela Universidade de São Paulo. Há trinta anos, atua no mercado livreiro e editorial brasileiro como diretor executivo da Editora WMF Martins Fontes e da Livraria Martins Fontes Paulista.

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