Por Sergio Kon
Ocorre que nem o e-book explodiu, nem o livro impresso desapareceu. Agora editor, observo uma convivência interessante entre as diversas formas de leitura.
Com um tempo razoável trabalhando como artista gráfico editorial, de quando os softwares de editoração começavam a ficar bastante mais eficientes e os fotolitos mergulhavam no campo da historiografia, acompanhei, como muitos, a evolução dos modos de produzir livros.
O aparecimento do livro digital, o e-book, nos caiu como uma bomba: teríamos de aprender a lidar com uma ferramenta inteiramente nova, com uma linguagem técnica completamente estranha, num formato revolucionário que prometia tornar os magníficos e perfeitos livros de papel peças de museu e lembrança nostálgica de um tempo antigo.
Simultaneamente, como produtor gráfico que vivia de fazer isso, vinham as dúvidas sobre o futuro pessoal, pois os valores de remuneração despencavam, acompanhando a tendência global de subvalorização e precarização do trabalho em nosso tempo.
Ocorre que nem o e-book explodiu, nem o livro impresso desapareceu. Agora editor, observo uma convivência interessante entre as diversas formas de leitura.
O audiolivro chega com alguma força ao mercado, nos treinando a ler com os ouvidos; o livro digital cada vez mais ganhando funções de acessibilidade e interatividade – seus maiores ativos, para mim –; e o impresso com prestígio renovado por características ainda insuperáveis: elegância visual, conforto e memória vinculada às anotações (também não quebra e fica guardado na sua estante).
Tendo a achar que esse equilíbrio se romperá. Os meios digitais irão se desenvolver a ponto de relegar o impresso, que traz inclusive custos ambientais, a um segundo plano. Creio que teremos dispositivos digitais muito mais confortáveis com soluções gráficas muito mais interessantes, sem restrição ao uso de cores, a um custo mais acessível.
Mas, até lá, tem muita água pra rolar embaixo da ponte, muito livro importante para publicar ou resgatar, muito conhecimento a ser compartilhado. Em papel, em arquivos de texto ou em áudio. Um futuro que construiremos juntos.
Sergio Kon é arquiteto, artista plástico, designer e editor. Foi sócio-fundador do escritório Dois Arquitetos nos anos 1980 e da fábrica S’ocio Brinquedos, de brinquedos educativos, durante os anos 1990. Fez uma especialização em arte-educação na ECA-USP em 1999 e a partir de 2000 passou atrabalhar como artista gráfico editorial e ilustrador, tendo colaborado para editoras como Edusp, Contexto, Global, Companhia das Letras, Unesp, Ateliê, Manole, Perspectiva, entre outras, além de trabalhos avulsos. Em 2017 assumiu o cargo de editor na Perspectiva, que dirige hoje com Gita K. Guinsburg e Alexandre Fonseca.