Os erros de conversão mais comuns

por Marina Pastore

Uma das partes mais importantes da rotina de quem trabalha com a produção de e-books é o controle de qualidade. Isso vai muito além de verificar se o arquivo é aprovado sem erros por programas de checagem, como o ePub Checker: é preciso garantir que nenhum conteúdo tenha se perdido ou danificado durante a conversão, que eventuais adaptações funcionem bem em todos os dispositivos e que elementos únicos ao formato ePub, como os sumários interno e externo, tenham sido preparados corretamente. Pensando nos problemas de conversão que encontro com mais frequência, reuni a seguir alguns dos itens que fazem parte da minha rotina ao fazer a checagem final dos arquivos:

Quebras de linha forçadas

Este talvez seja o erro mais comum em conversões a partir do InDesign, e é por ele que eu costumo começar a minha checagem. As buscas que uso para verificar há quebras de linha forçadas no arquivo são:

– Hífens duplos (– e – -).
– Tags <br/>. Neste caso, recomendo olhar cada ocorrência com cuidado ao invés de substituir todas de uma vez, já que as tags podem estar:
– com <br/>espaço
– sem<br/>espaço
– com hí-<br/>fen

Dar um “substituir tudo” pode fazer com que o e-book acabe com palavras grudadas umas nas outras ou hifenizadas incorretamente.

– Parágrafos começando com letra minúscula. Neste caso, a ferramenta Regex disponível no Sigil ajuda muito. Uma busca por “<p>[a-z]” vai encontrar todos os casos de letras em caixa baixa após a tag <p>.

Estilos

Durante a conversão, pode ser que estilos como itálico e negrito se percam, especialmente se o arquivo base não tiver sido preparado corretamente. Vejo isso com frequência em trechos que têm estilos de parágrafo diferentes do padrão, como legendas e notas. Muitas vezes a solução é simples: pode ser que o arquivo de determinada fonte não esteja embutido no ePub, ou que ele esteja lá, mas declarado incorretamente no CSS. O problema mais grave é quando as tags que indicam quais palavras e frases devem estar em negrito ou itálico se perdem. Nesse caso, o processo vai ser mais trabalhoso: a solução é cotejar com o original.

Outros estilos que costumam causar problemas são o sobrescrito (<sup>) e o versalete (<small>). Em ambos os casos, volto a recorrer ao Regex. Não sou nenhuma especialista nesta ferramenta, mas há duas buscas que uso com frequência para solucionar estes problemas:

– Pode ser que as tags <sup> se percam, fazendo com que “1º” apareça como “1o”, por exemplo. Para checar se isso aconteceu, costumo fazer uma busca Regex por “[0-9]o” e “[0-9]a”. Isso vai dizer se há algum número seguido por “o” ou “a” no e-book.

– É comum encontrar siglas em caixa baixa entre tags <small>. Alguns softwares de leitura entendem essas tags como um comando para exibir os caracteres em versalete, mas, infelizmente, outros não. Por isso considero mais seguro deixar todos os caracteres entre as tags <small> já em caixa alta. Para isso, faço uma busca Regex por “<small>(.*)</small>” e substituo cada ocorrência por “<small>\U\1\E</small>”. Isso vai procurar todos os trechos que estiverem entre estas tags e fazer a mudança necessária: o \U é o comando para transformar tudo em caixa alta (para deixar só a primeira letra em caixa alta, basta trocar por \u); o \1 indica que todo o texto entre tags deve ser repetido; e o \E é o comando para parar este processo ao chegar à tag </small>.

Fontes

Como já mencionei fontes no item anterior, aproveito para destacar alguns problemas comuns com fontes embutidas:

– É preciso checar se todos os estilos usados estão embutidos no arquivo. Se houver trechos em itálico ou negrito, não basta embutir apenas o arquivo padrão da fonte.
– Um problema muito comum é que as fontes não funcionem no iBooks. A solução é simples: no ePub, dentro da pasta Misc, deve haver um arquivo chamado com.apple.ibooks.display-options.xml. Em geral ele já é criado automaticamente ao exportar um arquivo do InDesign, mas, caso ele não esteja lá, basta incluí-lo manualmente.
– Se houver trechos coloridos, é bom checar se eles são legíveis no modo noturno dos aplicativos e em telas de e-ink.
– Também recomendo testar o livro usando as fontes padrão oferecidas pelos aplicativos de leitura. Nem sempre o e-book será lido do jeitinho que preparamos, com as fontes que escolhemos; se o leitor optar por usar outra fonte, o livro precisa continuar legível (mesmo que não tão bonito).

Imagens

Eis aqui um dos problemas que exigem mais atenção na revisão. Fora os erros de conteúdo (imagens na posição errada, repetidas ou com legendas trocadas, por exemplo), destaco duas questões:

– O redimensionamento das imagens de acordo com o tamanho da tela é essencial. Para isso, basta definir o tamanho das imagens em porcentagens, e não em valores absolutos. Ao fazer isso, também é preciso garantir que a imagem tenha resolução boa o suficiente para ser exibida corretamente em todos os tamanhos de tela.
– Um problema comum que, como leitora, me incomoda muito é quando a legenda fica numa página separada da imagem. Em geral, basta regular o tamanho máximo da imagem para que isso não aconteça. Quando há imagens no meio do texto (e não numa seção separada, como um caderno de fotos), sugiro criar um <div> com “page-break-inside:avoid;” ao redor do bloco imagem + texto. Assim, não acontecerá uma quebra de página dentro do <div>: se não houver espaço, tanto a imagem quanto a legenda irão para a página seguinte.

Este não é um checklist completo (até porque cada editora tem seus padrões), mas espero ter dado dicas úteis para solucionar alguns problemas do dia a dia.


Marina Pastore é jornalista formada pela ECA-USP. Trabalha há seis anos na Companhia das Letras, onde atualmente é Supervisora de Livros Digitais.

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