Que tabuleiro é esse?

Por Gerson Ramos

Se a construção de nossas estratégias no mercado editorial fosse um jogo de xadrez, aqueles movimentos calculados que fazíamos avaliando se deveríamos avançar o Cavalo ou recuar a Torre teriam perdido totalmente sua lógica.

Se a construção de nossas estratégias no mercado editorial fosse um jogo de xadrez, aqueles movimentos calculados que fazíamos avaliando se deveríamos avançar o Cavalo ou recuar a Torre teriam perdido totalmente sua lógica.

Em um determinando momento, alguém que não estava no jogo deu um pontapé no tabuleiro. Neste momento alguns de nós estamos agachados no chão recolhendo as pedras que se espalharam e algumas caíram debaixo do sofá e outra não sabemos onde foram parar.

Outros já voltaram ao jogo, só que ao invés de encontrarmos o tabuleiro tradicional, plano com 64 casas, dividas entre brancas e pretas,  demos de frente com o tabuleiro tridimensional jogado no Jornada nas Estrelas (nerds me entenderão) e um jogo que temos que mexer as peças em dimensões diferentes.

Este recurso cênico é para traduzir em imagem o que vivemos exatamente agora. Nunca gostei de olhar para o mercado digital isolado do todo, embora ele tenha uma dinâmica própria, seus agentes, na grande maioria, estão atuando no mundo físico e digital ao mesmo tempo. Não pensar na estratégia para as duas pistas é não querer construir uma via segura para o destino final.

Na Planeta do Brasil temos implementado uma atuação bem efetiva nestes dois mercados, felizmente bem sucedida em ambos. Quase 100% de nossos lançamentos são disponibilizados em ambos formatos, alguns títulos temos adotamos a prática do “Digital First” que, em geral, contribui fortemente para a visibilidade do livro impresso.

Com tantas mudanças ocorridas, no mercado, na sociedade, nos hábitos de compras dos leitores, as nossas experiências anteriores para desenvolver estratégias comerciais podem ser como mapas desatualizados podendo nos levar para lugares não previstos.

Nos momentos de maiores dúvidas de todos sobre o que teríamos que enfrentar durante o isolamento lançamos uma coleção de 4 títulos exclusivamente digital, pensada e escrita para este momento chamada Pela Janela, com foco nos temas do momento, com autores de grande sucesso e esperávamos um resultado muito maior do que o que tivemos, de fato. Em contrapartida, livros que não tinham por si só uma temática  relacionada explicitamente com o momento e que sua versão digital era um passo natural de nossas ações, exigiu que criássemos planos adicionais para manter as curvas ascendentes  de vendas, em especial na área de negócios e autores que apresentam uma visão mais crítica sobre a sociedade contemporânea.

Dos 4% em média que o livro digital representava de nossas vendas na soma de todos os canais em que atuamos, vimos com estes movimentos esta participação atingir quase 10%, sem que a redução das vendas do impresso, motivada pelo fechamento das livrarias físicas, acompanhasse as mesmas proporções.

Dificilmente a relevância do e-book baixará aos percentuais anteriores, porque o aumento de devices de leitura que ocorreu quase forçadamente, fará com que este consumidor mantenha esta forma de leitura na sua prática cotidiana.

Neste tabuleiro tridimensional, em que as peças atuam no mesmo jogo mas em planos diferentes é preciso que mais do que nunca pensemos não só no conteúdo, digital ou impresso, mas que pensemos cada vez mais no usuário final, o comprador, para que ele seja efetivamente leitor e que ao atender sua vontade e necessidade, possamos dar o Xeque-Mate na crise e na perda de público que nossos conteúdos tem enfrentado para outras opções de entretenimento e aquisição de conhecimento.

Nunca fomos tão digitais, os avanços tecnológicos fazem com que esta declaração a cada dia seja mais verdadeira do que era no dia anterior, mas desde o início de nosso isolamento forçado por conta da pandemia, a expansão deste avanço fez com que prestássemos muita atenção ao crescimento quantitativo. É hora também de qualificar este crescimento digital, para que nossas empresas sejam verdadeiramente sustentáveis em todas as dimensões. Não haverá Vida Longa e Próspera para nós editores sem este aprendizado que está apenas começando.


Gerson Ramos é Diretor Comercial da Editora Planeta do Brasil, foi fundador da Distribuidora Superpedido atuou como consultor para diversas editoras e livrarias, bem como participou do projeto de implantação da Nielsen Bookscan no Brasil. Coordenador do Curso EAD  “Estratégias de Vendas para o Mercado Editorial” pela Casa Educação  , realizou diversos cursos voltados para a profissionalização de editoras, livrarias e distribuidoras no Brasil na Universidade do Livro (Unesp) além de diversos treinamentos in-company. 

É diretor da Câmara Brasileira do Livro, faz parte do quadro de dirigentes da Fundação Observatório do Livro e da Leitura. 

Militante da Cultura Popular Brasileira é membro da Comissão Paulista de Folclore e tenta ser violeiro nas horas vagas.

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