Um paraíso em forma de biblioteca

“Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de biblioteca”, disse uma vez Jorge Luis Borges, renomado escritor argentino. Essa é uma frase que nos faz pensar sobre o cenário brasileiro, pois se o paraíso fosse uma espécie de biblioteca brasileira, será que ainda o consideraríamos paraíso?

O conceito de biblioteca mencionado por Borges não se limita a um único tipo de biblioteca, mas sim a ideia de um acervo quase que ilimitado de obras literárias ao nosso dispor. Do ponto de vista mercadológico, os editores brasileiros fazem o que podem para que seus livros estejam disponíveis em diversos pontos de vendas, tanto no mundo físico como no mundo virtual. Mas infelizmente a realidade brasileira requer um pouco mais de criatividade e solidariedade.

Pensemos no cenário brasileiro: em um país com uma renda per capita de menos de dois mil reais, com uma enorme desigualdade social, e com um território tão amplo que traz barreiras logísticas, é muito difícil garantir o acesso ao livro a todo cidadão. Nem todos podem comprar um livro – pior, nem todos sabem como ou onde adquirir um livro. E muitas vezes não é a condição financeira o impeditivo, mas sim a disponibilidade. Muitas cidades no país não contam com uma livraria sequer, e as bibliotecas públicas têm suas limitações de espaço e de orçamento.

Bibliotecas são um caminho-chave no mundo todo para tornar o livro acessível. Nossa cultura de acesso a bibliotecas é um pouco diferente de outros países onde o mercado editorial é mais consolidado, mas há diversas pesquisas* que mostram como as bibliotecas impactam positivamente o mercado de livros como um todo. Elas formam novos leitores, divulgam livros para além das famosas listas de best-sellers, e influenciam diretamente consumidores e outros tomadores de decisões, como professores e órgãos governamentais.

Infelizmente, segundo dados da Secretaria Especial da Cultura, do Ministério do Turismo, o Brasil perdeu 764 bibliotecas públicas entre 2015 e 2020. Coincidentemente (ou não), nos últimos anos o Brasil também perdeu mais de 4,6 milhões de leitores, segundo dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. A boa notícia é que as bibliotecas digitais seguem crescendo, apesar de não serem contabilizadas nessas pesquisas, e é com elas que esperamos conseguir recuperar os leitores perdidos e formar também uma nova base.

Então como podemos deixar nossas bibliotecas o mais próximo possível do paraíso de Jorge Luis Borges? Enriquecendo e apoiando essas bibliotecas. Sejam públicas ou privadas, com público escolar, acadêmico ou corporativo, as bibliotecas permitem que o leitor tenha acesso ao conteúdo sem pagar por isso. Quem paga essa conta é a instituição, órgão ou empresa dona da biblioteca, garantindo assim que toda a cadeia seja devidamente remunerada. E o leitor, tendo a oportunidade de conhecer a obra, não só se torna um divulgador, mas também um possível comprador de outros livros, em outros formatos.

A Agência Brasil fez um excelente resumo dos achados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil**:

Dificuldades de leitura

A pesquisa mostra ainda uma série de dificuldades de leitura. Entre os entrevistados, 4% disseram não saber ler, outros 19% disseram ler muito devagar; 13%, não ter concentração suficiente para ler; e, 9% não compreender a maior parte do que leem.

Há ainda entraves para acesso aos livros. “O Brasil está vivendo uma crise na economia, vemos dificuldade para o acesso, para a compra [de livros]. As pessoas estão frequentando menos bibliotecas”, diz Zoara.

Segundo a pesquisa, 5% dos leitores e 1% dos não leitores disseram não ter lido mais porque os livros são caros; e, 7% dos leitores e 2% dos não leitores não leram porque não há bibliotecas por perto.  

Incentivos

Um dos fatores que influencia a leitura, de acordo com o estudo, é o incentivo de outras pessoas. Um a cada três entrevistados, o equivalente a 34%, disse que alguém os estimulou a gostar de ler.

Os professores aparecem em primeiro lugar, apontados por 11%. Em segundo lugar está a mãe ou responsável do sexo feminino, apontado por 8%, e, em seguida, está o pai, responsável do sexo masculino ou algum outro parente apontado por 4%.

É fundamental investir na formação desse mediador. O professor, mediador de leitura, o bibliotecário que também assuma de alguma forma esse papel. A gente viu a importância desse mediador quando é assumido por uma família, mas que é uma família de classe alta, de nível superior. E as crianças que vêm de famílias mais vulneráveis? Eu acho que a escola tem que suprir esse papel”, avalia Zoara.

Esperamos que o mercado editorial brasileiro continue investindo em bibliotecas e que juntos lutemos e perseveremos na construção do paraíso de Borges. Estamos falando de um investimento a longo prazo, cujo resultado é a formação de novos leitores – assim, quem sabe, em um futuro próximo as pesquisas apontem que o brasileiro lê pelo menos um livro por mês ao invés dos quatro por ano que temos hoje.

* https://www.newyorker.com/news/annals-of-communications/an-app-called-libby-and-the-surprisingly-big-business-of-library-e-books / https://www.forbes.com/sites/rachelkramerbussel/2019/04/12/how-libraries-boost-book-sales/?sh=3c698faa4d76 / https://wordsrated.com/impact-of-libraries-on-book-publishing/ / https://publicityhound.com/blog/7-ways-your-local-library-can-help-you-sell-more-books-even-if-youre-an-indie-author (todos em inglês)

** https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2020-09/brasil-perde-46-milhoes-de-leitores-em-quatro-anos

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