Agenda da sustentabilidade avança no mercado editorial, mas a estrada é longa

Por Luciano Monteiro

Somos testemunha de uma das maiores transformações globais de todos tempos. Um modelo produtivo predatório coloca em risco a cada vez mais sensível convivência da humanidade com a capacidade do planeta de repor nossas necessidades. Discursos extremistas ganham vozes pelo mundo e ameaçam as parcas soluções disponíveis não mais para o futuro, mas para um presente já assustador.

Isso aumenta a responsabilidade de empresas e organizações ligadas à cultura, à educação e a direitos humanos mundo afora. Como porta-vozes de mensagens transformadoras para diversas gerações, nós, do setor editorial em especial, temos o dever de promover o debate para além dos nichos ideológicos e assumir nosso compromisso com uma agenda civilizatória e existencial.

Nesse contexto, devemos dar demonstrações práticas de que estamos engajados numa agenda em prol da sustentabilidade socioambiental.  Editoras, livrarias, empresas educacionais e outras organizações essenciais para o fomento de mentes transformadoras, dentro e fora do Brasil, precisam se preocupar cada vez mais com a agenda ESG.

O mercado editorial é um setor complexo que abraça diferentes realidades, de pequenas editoras locais a gigantes multinacionais. Mas algo é mais forte que todas essas diferenças: é a consciência de que não podemos prescindir de uma existência sustentável.

Nessa estrada estamos em momentos diferentes, é certo. Alguns mais amadurecidos e distantes na jornada, outros ainda em seus primeiros passos. Mas é iluminador ver que, cada vez mais editoras, livrarias e plataformas educacionais têm se engajado na percepção de que meio ambiente, educação e cultura são instrumentos de transversalidade de compromissos globais como a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.

Mais do que em qualquer outro setor econômico, o compromisso ESG em nosso meio de atuação deve se desdobrar em ações práticas, como neutralização de emissões de carbono e uso de papel certificado, entre outras medidas. Recentemente, a International Publishers Association (IPA) anunciou sua disposição de disseminar iniciativas positivas, no sentido de estimular que elas se repliquem. O tema vem sendo cada vez mais discutido em feiras e eventos internacionais.

As iniciativas no setor alcançam as áreas ambientais, sociais e de governança. Aqui no Brasil, vemos empresas do setor ampliando medidas como utilização de energia renovável, ampliação do uso de papel certificado, correta gestão de resíduos e ações de redução do uso de plásticos, entre outras frentes. Com a ampliação dos recursos digitais no setor editorial e educativo, também surgem novos ganhos ambientais. No campo social, além da forte defesa dos princípios democráticos de liberdade de expressão e do amplo direito de acesso ao livro e leitura, é com alegria que vemos a inclusão cada vez maior de grupos que historicamente foram sub representados na nossa literatura e produção editorial. E, na governança, é cada vez maior o número de empresas preocupadas com o respeito de normativas, com a igualdade de gênero e com a gestão responsável das cadeias de produção. Os avanços são muitos, mas o percurso para alcançar as metas da Agenda 2030 da ONU ainda é longo.

Não devemos nos esquecer que a nossa responsabilidade com milhões de leitores, estudantes e professores de todas as idades e áreas não acaba com a venda de nossas obras e conteúdos. Ao contrário, ela começa e se expande na mesma medida que o conhecimento que compartilhamos transforma a sociedade.


Luciano Monteiro atua no segmento de educação desde 2005. É diretor corporativo global de Comunicação e Sustentabilidade do grupo educacional Santillana, vice-presidência de Comunicação e Sustentabilidade da Câmara Brasileira do Livro e diretor-executivo da Fundação Santillana no Brasil e América Latina.

Formado em jornalismo e pós-graduado em marketing e sustentabilidade, trabalhou em algumas das principais empresas de comunicação brasileiras e em comunicação corporativa. É membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico, Social, Sustentável da Presidência da República e conselheiro  de instituições do terceiro setor.

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